O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

9 de out. de 2009

L'OSSERVATTORE PIANÍSSIMO

O local do crime
Carlos Eduardo Behrensdorf
De Roma

No centro de Roma, em pleno centro histórico, há uma praça no chamado Largo di Torre Argentina. A praça, com suas ruínas, está cercada por um teatro, paradas de ônibus e trem, ponto de táxi, banca de jornal, restaurantes, uma ótima livraria Feltrinelli e comér-cio em geral.

Como a área é um ponto com-plicado do sempre emocio-nante tráfego romano quase ninguém olha para as ruínas.
Confesso que nos primeiros seis meses passei batido pelo local onde às vezes pegava ônibus.

Um dia atravessei a rua e fui olhar o que havia na praça e fiquei com a boca mais aberta do que o normal: numa plaquinha colocada embaixo de uma grade estava escrito, entre outras coisas, o seguinte ”... e nela foi assassinado Júlio César no dia 15 de março de 44 aC.”

Corri para os livros e o computador para ficar sabendo que o chamado Largo di Torre Argentina está a céu aberto desde 1924.

Em 1885, escavações mostra-ram as ruínas de um extenso complexo religioso da Roma Antiga, identifi-cado como da Era Republicana.

Estimam os estudiosos que os templos datam do período entre os séculos II e IV dC.

Como ocorre em vários sítios arqueológicos romanos há reconstruções feitas ao longo dos séculos, ou seja, obra em cima de obra, cidade em cima de cidade. Um dos templos foi transformado em igreja cristã no século IX, e ainda existem alguns vestígios visíveis de afrescos e um pequeno altar.

Havia uma torre cor de prata que foi restaurada e daí o nome de Largo di Torre Argentina, do latim argentum.

O resto da História todo mundo sabe: o chefe militar e ditador romano Júlio César foi assassinado com 23 facadas por 60 senadores, liderados por Marcus Julius Brutus, seu filho adotivo, e Caio Cassius.

Júlio César ainda se defendeu, cobrindo-se com uma toga, até ver Brutus, quando então teria dito sua última famosa frase: Tu quoque, Brute, filii mei! ("Tu também, Bruto, meu filho!") ou Et tu, Brute? ("Até tu, Bruto?", versão da peça de Shakespeare).
Segundo Suetónio, em "A Vida dos Doze Césares", César, ao ser golpe-ado, não pronunciou frase alguma.

A pesquisa mostra que a lenda narra um aviso feito por Calpurnia Pisonis, a mulher de César, depois de ter sonhado com um presságio terrível.

César ignorou-a dizendo ”... Só se deve temer o próprio medo”. E aí deu no que deu..
(Fotos: CEBehrensdorf, de Roma)