Até hoje, nem ele mesmo sabe se foi por amor ou por interesse. Casou. Casou e pronto. Foi com uma conterrânea, uma pelotense de escol, da nata - e que, de bonita não tinha nada. Mas deixa os detalhes pra lá.
Em Pelotas, para quem casava naqueles anos dourados, o it da moda era passar a Lua de Mel no Rio de Janeiro, capital da República e coisa e loisa. Naquelas priscas eras, o simples fato de ir ao campo de aviação embarcar no aeroplano, era uma inusitada e chique aventura. Inda mais quando o aparelho era um Constelation da Varig, fretado pela Sadia.
Pois o galante Garanhão cometera de uma sentada só (epa!) duas grandes arteirices: casou sem eira nem beira e viajou de Constelation.
Mariana Bibiana, sua dileta consorte, não era lá o que se poderia chamar de um peixão, mas o dote do velho sogro bem que financiava com sobras o vôo para a capital e coisa e loisa.
Viagem vencida e roteiro mal enjambrado, pousaram em um hotel tão pouco estrelado quanto bem recomendado, ali no burburinho da Avenida Atlântica.
Casamento consumado de fato na alcova da estalagem, o ainda frangote Garanhão de Pelotas, deixou a noiva extenuada a dormitar o lindo sono do depois e saiu para um bordejo inocente ao cair da tarde, pela orla de Copacabana.
Menos de meia hora depois, ele chegava de volta ao hotel, quando uma piranha atrevida, rodando a bolsinha, se aproximou e lhe disse:
- Pra você, são só 50 pratas, meu bem.
- O quê, 50 pilas, tu tá maluca!
E se mandou para o apartamento nupcial. Não demorou muito, o Garanhão saía de braço dado com sua feiosa Mariana Bibiana para mostrar o Rio e jantar no Barril.
Ainda nas cercanias da porta de entrada do hotel, ao passar pela decaída que o topara, além de vislumbrar um ar de deboche no semblante da sirigaita, ainda teve que fingir que não ouviu:
- Bem feito, seu pão-duro. Tá vendo só o que você arranjou por menos de 50 pilas?!?
MORAL DA HISTÓRIA - Não deve julgar-se injuriado pelo engano, aquele que conhece o seu engano.