A COLUNA DE NEYMAR
E AS OUTRAS COLUNAS
Há gente intrigada, magoada, revoltada, indignada porque a contusão de Neymar teve mais repercussão do que a queda do viaduto que matou e feriu pessoas. Ora, que pieguice repentina é essa; o que é isso, companheiros?
As costas de Neymar foram cobertas pelo peso massacrante da publicidade que faz dessa Fifa Fest a Copa das Copas. É isso. Só isso. Nada mais natural, pois, o trauma emocionado e solidário de uma país inteiro.
Já a tragédia do viaduto em Belo Horizonte tinha o peso apenas do tradicional e conhecido descaso do mesmo governo que patrocina a Copa de Rico que não é pro nosso bico. Simples assim.
Você mesmo, não pode se queixar, largou tudo de lado para chorar emocionado na hora do Hino Nacional, sentado na sala, ao lado da mulher, dos filhos e dos melhores amigos predadores de pipoca, canapés e loiras geladas.
A publicidade e o marketing impiedosos e massacrantes criaram em você essa euforia da pátria de chuteiras.
Você, sem bala na agulha, não foi sequer a uma dessas Fifa Fan Fest que contaminaram o Brasil com o mesmo ufanismo do tempo daquelas copas, cozinhas e calabouços do popularesco e contagiante Milagre Brasileiro.
Você não tem culpa nenhuma de o Brasil da Silva ter se comovido mais com a coluna do Neymar, já fragilizadas de tanto carregar o time nas costas, do que com as colunas do viaduto que desabou na capital mineira.
É que, embasbacada pela carga de publicidade em cima da paixão pelo futebol e pelas festas boca-livre, sem consumação e sem ingresso pago, a nação dobrou a coluna e se ajoelhou diante da força do marketing e dos desejos e interesses de quem pode mais e se sacode menos.
E, assim é então que você deve aproveitar o dia de folga esportivo-social que o governo e a Fifa dadivosamente oferecem nesta segunda-feira: faça hoje o que já era para ter sido feito desde que a festança começou.
Não deixe para amanhã o que tem que ser feito hoje, porque de novo, já nesta terça vai ter Copa. A sua coluna suporta bem mais do que isso.