O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

6 de ago. de 2016

Da Série Perfis Republicanos...

A ALMA BRASILEIRA E CARLOS ARTHUR NUZMAN

A alma do brasileiro é boa, surpreendente e boba. Tão boa, tão boba e tão surpreendente que às vezes se deixa parecer com a alma viva e honesta de Lula. 

Pode até nem ser mais honesta, mas que é muito melhor e muito mais boba que a de Lula, claro que é. 

Nesta sexta-feira, 5 de agosto desse ano de desgosto, mais de 70 mil almas brasileiras mostraram como são almas boas e bobas. 

O Michel Temer, falou dez segundos e levou uma vaia maracanesca, quase igual àquela que o Lula levou no tempo em que os moluscos ainda falavam e se meteu de pato a ganso indo à abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio-2007. 

Já, o cartola, Carlos Arthur Nuzman, há 21 anos imperador do Comitê Olímpico Brasileiro, falou mais de dez minutos e não foi vaiado. Pelo contrário, ao invés de apupado, foi até apalpado pelo presidente do Comitê Olímpico Internacional. Pô, que país é esse?!? 

Vai ver que os maracanizados de ontem sabem muito bem quem é e o que é Michel Temer, mas em se tratando de Nuzman, não sabem com quem estão falando. 

E, em sendo assim e em assim sendo, a alma brasileira boa e boba como ela só, não é capaz de dizer o que é que Temer não tem que o Nuzman tem. 

E dito isso, dou um stop no perfil da alma brasileira. Entro na raia para traçar o perfil do proprietário do esporte olímpico nesse país que já lhe deixou de bandeja também para esses Jogos o paralímpico também.

Só para mexericar com a paz da alma boa e boba dos brasileiros lembro que ambos, Temer Nuzman, são advogados. E que ambos, Temer e Nuzman, são casados com mulheres jovens, belas, recatadas e do lar. E daqui pra frente, só me dedico ao perfil do dono do esporte olímpico e paralímpico que não leva vaia de quem, nesse palco iluminado, já vaiou Lula, apupou Temer, ovacionou o General Médici e aplaudiu Nuzman.

Nuzman, assumiu a presidência do COB em 1995. Por esses azares da vida, um ano depois, na noite de 7 de outubro de 96, o corpo de sua mulher Patrícia Cunha Nuzman foi achado no playground de um apart-hotel em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, terra natal de Nuzman. A Polícia então registrou a morte como possível acidente.

Dois anos depois, o indigitado viúvo casou com Márcia Peltier que foi apresentadora do Jornal Hoje, na Globo e depois do Jornal da Manchete que logo deixou para ser dona do lar. E de uma agência de publicidade ou turismo, ou as duas coisas juntas e misturadas.

Mas essas coisas todas são prolegômenos. O que interessa do Nuzman é o cartola Nuzman. Ele foi jogador de vôlei de 1960 a 1970 e quando deixou de ser atleta, virou presidente da CBV - Confederação Brasileira de Voleibol. 

Ele se deu bem. Descobriu o patrocínio comercial como porta escancarada para o crescimento daquela modalidade. O vôlei brasileiro cresceu e hoje é o que é, graças ao tirocínio de Carlos Arthur Nuzman. Até aqui, pois, ele merece aplausos, ainda que a alma brasileira seja boba.

Como imperador do COB desde 1995, trouxe os Jogos Pan-Americanos de 2007 para o Rio de Janeiro. Era o primeiro passo da grande caminhada rumo aos Jogos Olímpicos de hoje nesse Rio 2016 que continua lindo.

Então, agora o torcedor que lotou o Maracanã ontem já sabe que ele foi um dos grandes responsáveis por trazer a Olimpíada nessa hora ingrata e inoportuna para um Brasil mergulhado na pior crise econômica, política e moral da sua História.

Foi no dia 2 de outubro de 2009 que Nuzman e uma boa pandilha que contou com os guardanapos de Sérgio Cabral, com esse Eduardo Paes, com Lula da Silva, Orlando Tapioca Silva e até o politicamente correto Pelé, transformaram o Rio de Janeiro na sede oficial dos Jogos Olímpicos de 2016. Tiveram, pois, sete anos para fazer tudo como manda o figurino. Nesse meio tempo, já mais perto de hoje, mais precisamente em maio de 2013, diante dos flagrantes e preocupantes atrasos nas obras de preparação para a Olimpíada,  o Comitê Olímpico Internacional promoveu o que se chamaria em qualquer lugar do mundo de "intervenção branca" na organização dos Jogos que, afinal, começam sob aplausos já merecidos, pelo que se pode ver.

Os 21 anos de perpetuação no poder foram marcados por acusações e denúncias por falta de transparência e por questiúnculas jurídicas contra quem se dispusesse a romper a continuidade de seus sucessivos mandatos.

As contas dos Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 - que teriam custado 1.000% a mais aos cofres públicos do que era o orçamento inicial - são tipo assim as contas de Dilma Vana: não fecham nem que a vaca vá pro brejo.

E no caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no caminho. Houve denúncias sérias de que os organizadores desses Jogos de hoje aqui no Brasil tinham surrupiado os arquivos confidenciais com o modelito da Olimpíada de Londres que tinha sido um sucesso. 

Houve ameaça de processos por tudo que é lado. Tudo deu em nada. As melancias foram acomodadas com o andar da carroça. 

Mas antes que as almas todas entrassem numa boa, por causa do escândalo, Arthur Nuzman demitiu um time inteiro, onze funcionários do Comitê-Rio 2016. Até hoje, não se sabe sob as ordens de quem agiram os larápios do modelo inglês de fazer Olimpíada. 

E então, é aí que se vê, como o brasileiro tem alma boa, surpreendente e boba. Tão boa e tão boa que se deixe parecer com a alma honesta de Lula e seja capaz de vaiar Temer e pelas mesma razões aplaudir Nuzman.