ELE É O HOMEM
Há 13 anos que o homem vem perdendo a grande chance de ser um homem; de ser um homem bom; de ser um político bom. Desperdiçou a História do Brasil que nos tempos de chumbo desenhou para os brasileiros. Perdeu a oportunidade de construir um país bom. Bom para todos, não só para ele mesmo e para os sócios do sindicato da sua chusma de companheiros de fidelidade canina.
Paulatinamente foi despindo o caráter daquele homem que sempre gostou de pular a cerca, mas pulava os portões das fábricas, prensava os patrões, desafiava os donos do poder. Quando, com ares de Narciso se viu no espelho, já era feio. Viu que engendrara um mundo sem sentido.
E então sentiu que jamais confiara em alguém e agora já percebe claros sinais de que a recíproca é verdadeira. Talvez a única verdade nesse caminho ocupado pela mídia, sua família, seus companheiros. Tudo que eles contam é apenas uma realidade que, para o homem estelar, é falsa.
A corrupção, as propinas, os cartéis, os crimes de todo tipo previstos em lei, os dividendos, as ações, os bancos; traições, suspeitas, delações.
O grande homem, não chega sequer a reconhecer que aquele imenso território que um dia disse que transformaria no melhor dos mundos para os brasileiros, não precisava desaparecer do mapa do antigo país abençoado por Deus e bonito por natureza que o grande homem transformou num deplorável, ignaro, doente, inseguro, desigual e injusto Brasil da Silva.
Que nada, o grande homem persiste em refletir-se como se fosse ainda aquele que continua a fazer a si mesmo as perguntas que fazia antes. Um pouco antes de arrombar e deixar arrombar portões.
A diferença agora é que as perguntas que o homem faz para si mesmo vem das profundezas do abismo, dos poços sem fundo do Mensalão, do Petrolão, dos inumeráveis escândalos na máquina pública banalizada pelo hábito da delinquência que transformou o crime organizado no Estado execrado e fora de controle.
Em cada criatura dessa sociedade, no estudante, no leiteiro, no dirigente, no policial, no companheiro, no parente, no médico, no patrão, no desempregado, no atleta, no cidadão acima de qualquer suspeita, o grande homem não consegue mais do que ver a nojeira, a imundície, a incapacidade de fugir da degradação humana.
O homem descobre e aproveita-se do lado sombrio de cada um. O grande homem, finge que não sabe que se despiu da ética, da moral, da lealdade e que se tornou um monstro. Esse homem é o cão. Esse homem é um monstro.
O REFLEXO
Quando tudo que um homem tem a sua volta é o reflexo do que o homem dissimula ser, então o homem que tomou conta do seu instinto assume o caráter de todos que apareçam no seu espelho e todos, até os bons, no seu modo distorcido de exercer o poder, lhe parecem mais do que companheiros, cúmplices do monstro em que o homem se transformou.
Homem, você é um perigo. Você berra, grita, discursa, faz palestras e espalha suas mentiras como se fossem a única verdade sobre a face dessa terra que você redescobriu, quando chegou ao poder.
Redescobriu e cobriu de incertezas, insegurança, desencanto e vergonha. Mais que isso, essa pátria que você elucubrou é hoje desprezível. De todas as perguntas que você faz para si mesmo, há uma que, tenho certeza, você não fará para você mesmo, enquanto desfrutar o pleno sol da liberdade:
- Valeu a pena?
Essa pergunta, quando você a fizer para si mesmo, ainda que sussurrada entre quatro paredes, ecoará ribombante no pátio triste de um complexo penitenciário, desses que Cardozo, o ministro da Justiça não mandará reformar nem adaptar, só por birra, porque você vive pedindo a cabeça dele.
Isso se dará quando você despir o monstro que habita seu corpo. Mas aí, já será tarde demais. O homem que tomou conta do seu corpo estará nu.