Na varredura geral pelos jornais de cada dia, não há um caderno de variedades que não traga uma manchete sobre o que está acontecendo no fantástico Big Brother Brasil da alcandorada Rede Globo. Não há uma só biboca no raio da Internet que não fale dessa grande atração da vida nacional; desse notável e definitivo campeão de audiência.
Não há um só colunista, de respeito ou sem um pingo de moral, que não meta o olho e o bedelho por baixo dos panos da enorme casa de tolerância que reúne uma pandilha de ilustres desconhecidos escancarando as entranhas de suas vidas sem qualquer importância, até que viram estrelas de uma sociedade cadente que parece não ter mais o que fazer.
Um estupro pra lá de previsível, pelo comportamento de um grupo de confinados que só pensam naquilo, tomou conta das casas e do imaginário de um povinho que - antes a gente pensava - Deus colocou no Brasil para compensar o único país que Ele criara sem maremotos, terremotos e vulcões para ser apenas bonito por natureza.
Preocupa mais o que não disse o Grande Irmão Pedro Bial sobre a sacanagem que escapou do controle, do que a covardia do comandante Francesco Schettino que foi o primeiro a abandonar o navio Costa Concordia que bateu com os costados numa ilha da Toscana, às bordas da Itália.
Pais e filhos, psicólogos e cientistas sociais, padres, pastores e ateus convictos, pessoas e políticos tratam mais do mondo cane dessa velha patifaria televisiva que a Globo enfia goelas e cobertores abaixo de quem esteja no seu espectro de sintonia do que se importam com os destinos do Brasil da Silva que banaliza os escândalos e, qual um gigantesco e descontrolado BBB da Dilma, vem perdendo um ministro por mês e deixando uma quadrilha por dia na Esplanada dos Ministérios.
Pelo Big Brother Brasil - um reality show rasteiro, alienado e crápula que a Globo, em busca de audiência, trouxe para cá em 2002 - os brasileiros abandonaram o país na hora do mais evidente naufrágio da sua história política recente.
Interessa o estupro, muito mais que os escândalos cotidianos de corruptos contumazes que, num regime de máfias instalado nos porões do Estado já chegou ao convés dessa incomensurável nau de insensatos que aderna o Brasil.
Assim como o capitão Schettino abandonou o navio deixando a tripulação às voltas com os passageiros; assim como Dilma abandona a sua obrigação de cuidar do casco duro da República e fica à margem de tudo enquanto a nação afunda; assim está a sociedade brasileira, covarde e fujona de sua missão de ser um povo de bons costumes, com moral e vergonha na cara.
O brasileiro prefere discutir o Big Brother Brasil da Globo, do que mandar o governo fazer o que tem que fazer. O Brasil está afundando. Já está mais do que na hora de mandar Dilma trabalhar.
Na verdade, faz mais de nove anos que a voz rouca das ruas já deveria se fazer ouvir. Basta tropeçar e cair no bote salva-vidas gritando: - Vada a bordo, cazzo!