O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

20 de jan. de 2012

Missa de 7° Dia - Sermão do Mensalão

Segundo Millôr Fernandes, a memória do brasileiro vai só até à Missa de 7° Dia. O Sanatório da Notícia manda celebrar esse culto à lembrança dos eleitores que já chegaram ao 7° ano de distância do infausto acontecimento. Elevemos, pois, nossos pensamentos e oremos:

Sermão do Mensalão

Em junho de 2005, os brasileiros ficaram sabendo que o PT estava montado e andava a galope em um cavalar esquema de compra de votos de deputados na Câmara Federal, para aprovar projetos do governo. Foi o primeiro grande sinal da maquiavélica "estratégia de coalizão pela governabilidade" com que, aos trotes, Luiz Erário Lula da Silva atropelou o Brasil

O escândalo animalesco ganhou o nome de Mensalão. Cada deputado custava cerca de 30 mil dinheiros reais ao mês. A pule vencedora era paga na boca do guichê com dinheiro público, desviado por um esquema de barbadas aplicado por Delúbio Soares, tesoureiro do PT, com o cúmplice Marcos Valério, lobista cujas apostas viciadas eram cometidas sob o comando do então dono da Casa Civil, Zé Dirceu.

Os mequetrefes levaram um coice quando veio a furo um vídeo em que Maurício Marinho, então chefe de departamento nos Correios, sorrindo para as câmeras sem saber que estava sendo filmado, aparece recebendo propina de empresários em nome do presidente do PTB, Roberto Jefferson - o histriônico Bob Jeff.

Como não é desses comandantes italianos que tropeçam na proa do navio e caem num providencial barco salva-vidas antes que o barco afunde, Bob Jeff atirou na pá dos ventiladores da imprensa persecutória a existência de um esquema de pagamento a quem, por absoluta convicção cívico-partidária, se tornava membro erecto e eficaz do governo lulático.

Envolvimento

Em julho daquele glorioso e distante ano de 2005, Luiz Erário estava na China, falando mandarim com seus amigos, irmãos e companheiros emergentes. Com o crédito de quem não cumpre uma promessa que faz com a enorme facilidade de quem tem corrida e jogo de cintura, Lula declarou - peremptório como um Tarso Genro desses que andam por aí - não saber da existência da quadrilha encabeçada por Zé Dirceu e formada por homens de confiança do seu governo.

Resultado

Depois da escatologia se espalhar pelas paredes da República, o então procurador-geral da dita cuja, Antonio Fernandes de Souza, achou demais e denunciou a banda podre que juntava os rampeiros do Palácio aos porões do Congresso Nacional. Lula nunca explicou direito como foi possível armar ao seu redor uma quadrilha tão numerosa e organizada. Falou até em "facada nas costas".

O procurador Fernando Souza deixou em branco no organograma da pandilha de sevandijas o posto logo acima de Dirceu. Mas para o próprio Ministério Público a "organização criminosa" funcionava com o objetivo de sustentar o projeto de poder do PT. E concluía com fantástico sentido de observação que era —"evidente que o beneficiário era o presidente".

Incrível como um presidente esperto, ágil e macaco velho em arapucas e combucas, não estivesse informado sobre o que se fazia no coração de seu governo, dentro de uma célula como a Casa Civil, chefiada por um companheiro bom e batuta como Zé Dirceu, a quem ele mesmo errônea e propositadamente chamava de "capitão do time", ao invés de chamar de "chefe da quadrilha" - como está no processo que até hoje se arrasta no Supremo Tribunal Federal.

Sabe o que foi que aconteceu? Bulhufas! A cretinice não chegou a a arranhar bastante a figura de Luiz Erário da Silva - que chegou a se acovardar com a hipótese do impeachment - a ponto de impedir sua re-eleição em 2006.

A missa vale a pena porque a alma brasileira não é pequena. Fazem sete anos. O processo se arrasta na mais alta corte de Justiça do País. E Zé Dirceu e os seus 40 mensaleiros estão aí, livres, leves, soltos. Dando as cartas e jogando de mão.

Um olho no padre e outro na missa

Não se sabe muito bem quantas, mas pelo menos meia dúzia de vezes, o mensalão tinha chegado aos ouvidos de Lula. Besteira até, esta constatação. Lula não só sabia como coordenava, pulava e andava lado a lado com o esquema. Como bom "marido traído", negou sempre. Bancou o descalcificado. Os chifres não nasciam na testa do seu governo.

Parecia até que nem conhecia Zé Dirceu, seu vizinho do terceiro andar no Palácio do Planalto. E, no entanto, tratava-se do cara que como presidente do PT, ex-militante de esquerda, cassado e exilado durante a ditadura militar, tinha arquitetado a campanha que levou Luiz Erário Lula da Silva à Presidência da República.

Como ministro da Casa Civil, Dirceu era o homem forte do governo. Forte e enrolado. Pouco mais de um ano depois de atingir o apogeu, os problemas de Dirceu começaram.

Na Casa Civil, sua turma ficou conhecida como a banda podre do governo. Waldomiro Diniz, seu companheiro de apartamento e um de seus principais assessores, encarregado pela negociação de cargos e emendas com deputados e senadores, caiu em fevereiro de 2004 ao ser pilhado naquele vídeo em que pedia propina a um empresário de jogos de bicho e de bingos.

Saiu Waldomiro e entrou Bob Jeff que acusou Dirceu de chefiar o mensalão. Foi então que apareceu o procurador-geral da República Antônio Fernandes Souza para dizer e escrever que o velho guerrilkheiro Zé Dirceu era sim o chefe da quadrilha.

A listagem de malfeitos no relatório que pediu a cassação do mandato de Dirceu, em dezembro de 2005, tinha o cabalístico número de sete acusações: comando do pagamento do mensalão, participação na farsa dos empréstimos bancários ao PT, trafico de influência para beneficiar sua ex-mulher, favorecimento um banco com crédito consignado, facilitação a outro banco em investimentos de fundos de pensão, defesa de interesses patrocinados pelo consultor Marcos Valério e manutenção de um assessor na lista dos que comiam e se lambusavam com dinheiro do valerioduto.

Deu no que deu

Sabe o que se passou? Dirceu saiu pelos fundos da Casa Civil em junho de 2005, depois de nababescos 30 meses no governo. Dirceu gabou-se então que saía de "mãos limpas" e "cabeça erguida".

Ele retomou seu mandato de deputado para "esclarecer todas as denúncias contra ele". Deu com os burros n'água: em dezembro, ele teve o mandato cassado e perdeu os direitos políticos por oito anos.

Virou próspero - tanto, ou mais que Palocci - consultor de empresas. Continua, com a carcaças que os deuses lhe deram, atuando no sub/mundo da política. Já teve um "gabinete" num hotel de Brasília para tratar de política.

Seu processo está na barra do Supremo. É nesse libelo crime acusatòrio que o procurador-geral da República afirma que "as provas coligidas no curso do inquérito e da instrução criminal comprovaram, sem sombra de dúvida, que José Dirceu agiu sempre no comando das ações dos demais integrantes dos núcleos político e operacional do grupo criminoso. Era, enfim, o chefe da quadrilha".

Se os empurrões com a barriga cessarem de repente, ele deverá ser até que enfim julgado pelo Supremo por corrupção ativa, formação de quadrilha e peculato. A expectativa é que pegue até 111 anos de prisão. Mas, no Brasil ninguém fica mais de 30 anos atrás das grades. Se tiver bom comportamento, ganha o pleno sol da liberdade um dia depois de cumprir um terço da pena. Uma pena, sem dúvida.