MANÁ GARRINCHA:
JOGARAM UM OBJETO DENTRO DO CAMPO
Eu me recuso a marchar com o pay per view para acompanhar o Brasileirão pela TV. Também me recuso a ir ao Maná Garrincha, aqui em Brasília, seja lá para o que for - de futebol a show de dupla sertaneja. É uma arena superfaturada no jeito brasileiro de ser Fifa, em que os contribuintes foram jogados aos leões.
Por isso estou assistindo aqui na sala ao desenxabido Atlético Paranaense x Cruzeiro, em vez de estar vendo o que acontece com Santos e Grêmio.
O jogo no caldeirão brasiliense está empatado em zero porque o Tinga está jogando e o Dagoberto está no banco do time mineiro. E tudo não sai da mesma.
Epa! Jogaram um objeto no Tinga. Não, não tem nada a ver com racismo. Dessa vez, não. E nem é, tampouco, uma privada como aquela que atiraram, lá em Recife, na cabeça de um jovem torcedor que teve, coitado, uma morte que foi uma porcaria.
Não tem nada de racismo, não. É um pente! O que atiraram no gramado foi um pente! Tem tudo a ver com aquele cabelo do Tinga.
Ninguém mais, no Brasil ou no mundo, usa cabelo rastafári. Muito menos num campo de futebol; ainda que seja no bilionário Maná Garrincha, aqui em Brasília, onde tudo pode acontecer... Inclusive, nada.
Quer saber duma coisa? Se eu não tivesse vergonha na cara e um dia fosse ao fraudado Maná Garrincha, eu também atiraria um pente nos pés de Tinga.
RODAPÉ - Acho que nada disso aconteceu. É que essa República dos Calamares me deixa meio insano, meio pra lá de inquieto. Vejo coisas que, mesmo absurdas, meio kafikianas, são cheias de boas intenções.
Nesse caso aí do Maná Garrincha, o gesto - longe de ser uma manifestação racista e belicosa - é um apelo à pacificação desarmada. Um sinal reeducador, tipo assim o que a Papuda deveria ser para Zé Dirceu, Zé Genoíno e outros proscritos de somenos notoriedade.
Permitam-me, no entanto, lhes dizer o que penso: acho que o pente não vai reeducar o Tinga e seu rastafári; e nem a cadeia reeducará os mensaleiros.