O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

15 de mai. de 2014

Como assim, "atrapalhar"?!?

Esta quinta-feira foi emblemática. O povo de todas as partes do país saiu às ruas. De espírito desarmado, sem blackbostas, sem querer vandalizar; indignado por tantos descalabros.

Manifestações e protestos de todos os tecidos sociais andaram pisoteando linhas fronteiriças riscadas no chão da pátria nesse instante pelas forças de repressão do governo que só pensa na Copa dos Copos que vem aí, um pouquinho antes das eleições de outubro.

Fizeram-se ouvir com a voz rouca das ruas gente brasileira dos sem-teto, dos que são contra a Copa, professores, terceirizados dos serviços públicos, agentes penitenciários, trabalhadores do metrô, metalúrgicos, professores, servidores de escolas públicas, policiais federais e até, fora do território nacional, os itamaratecas que deram o ar de sua graça lá nos Estados Unidos e em mais de 20 países da Europa.

E, no entanto, Dilma só pensa naquilo: a Copa dos Copos. Uma festa da Fifa trazida para cá, na marra e por alto preço, pelo então presidento Lula e seu séquito de olhos esbugalhados e ventres mais proeminentes ainda.

E o que se vê então é isso: o pau comendo solto. Epa! Dito assim, parece até que a gente está falando do namoro de Luiz Argôlo, aquele deputado baiano, com Alberto Youssef, aquele doleiro fascinante, atualmente curtindo uma cana na Polícia Federal.

Mas, não é não. Deixe-me explicar. O governo garante: Vai ter Copa! E a gente sabe, vai ter Copa, sim... à força!

Eis que Dilma Vana, a Dama-de-Ferro desanca a repressão: "quem se manifestar não pode atrapalhar a Copa!". Como assim, Mulher Maravilha? O que é "atrapalhar"?!?

Vou dizer: atrapalhar é fazer uma Copa na marra, num país que não precisa de Copa; que precisa de saúde, educação, transporte, segurança, previdência, igualdades sociais - por pequenas que sejam - e melhor qualidade, muito melhor qualidade de vida.

Atrapalhar é, em nome da Copa da Fifa, é as forças policiais delimitarem áreas públicas ao bel prazer do governo e assim impedir o direito de ir e vir do cidadão que quer se manifestar e protestar porque ainda não perdeu a sua capacidade de indignação.

Atrapalhar é o governo traçar a seu gosto e feitio, fronteiras urbanas "emergenciais" no entorno dessas arenas inacabadas que consumiram bilhões de reais das burras públicas, como impedimento para as marchas, passeatas e paradas contra os descalabros que correm frouxo nessa festança de usurpadores da nação.

O risco é riscar, mesmo que de leve, as linhas que delimitam a distância entre a vontade do povo, o seu direito de ir e vir e os desejos e o poder de repressão do governo que manda e desmanda sem medo de ser feliz.

Ai de quem ultrapassar os limites traçados pelas forças do governo; toma cacetada, leva bala de borracha, pisoteio de cavalo e de coturnos, toma bomba de efeito imoral e ainda vai em cana, perigando ficar ao lado de uma cela cheia de mensaleiros. Isso é que é "atrapalhar".

É o sinal para que se estabeleça o confronto. Um confronto prevalecido e desigual. Um confronto que vai mostrar quem é o mais forte e que bicho vai dar quando a bola rolar na Copa dos Copos que o mundo inteiro vai ver, do mesmo jeito que a esmagadora maioria do povo brasileiro vai assistir: pela TV.

Na língua do governo, a repressão sistemática e organizada é chamada de democracia. Riscar as ruas, mapeá-las e estabelecer linhas limites entre o desgosto popular e aquilo que o governo gosta, quer dizer poder absoluto e domínio dos fatos e da sociedade.

Para quem se mexe, se mobiliza e sai às ruas para manifestar seu desagrado, sua desconformidade e inconformidade, a coisa deveria ser mais simples, malgrado a repressão que vem padecendo: um governo tem que governar, "mas não pode atrapalhar".

Há 12 anos esse par de vasos que ornamenta o Palácio do Planalto é o símbolo decorativo e brega de uma maldição que vem atrapalhando o Brasil. Mas, ao fim e ao cabo, é isso o que acontece com um povo que se deixa dominar por um governo que é escravo de sua ambição pelo poder.