Carlos Eduardo Behrensdorf
Foto/Arquivo CEB
Foto/Arquivo CEB
A credibilidade dos
cartões de crédito afastou ou mascarou velhos e fortes conceitos e preconceitos
tendo como alvo homens velhos e mulheres velhas, homossexuais e lésbicas,
sozinhos, sozinhas, acompanhados ou acompanhadas, sem haver preocupação ou
restrição sobre quem acompanha quem.
Os
armários abriram geral. Entre os que se prepararam e se preparam para o chamado
novo nicho de mercado estão a hotelaria, restaurantes, bares, boates,
cruzeiros, pacotes para passeios dentro e fora do Brasil, lojistas de todos os
setores.
Assim,
tudo o que antes era negado a gays e lésbicas, forçando a uma auto-segregarão
caiu, diante da atraente e indefensável avenida do consumo para clientes
especiais e com capacidade de consumo de média para boa ou muito boa.
Se
não me engano, uma das primeiras boates de lésbicas que vi no Rio de Janeiro
ficava na velha e sempre acolhedora Galeria Menescal na Nossa Senhora de
Copacabana e se chamava “L’Étoile”.
Os
homos ocupavam a Galeria Alaska, no Posto Seis de Copacabana na Avenida
Atlântica. Por lá havia um boteco barra-pesada, o Rolando, de um pernambucano
que vendia uma cachaça de primeiríssima.
Na
velha galeria a fauna era variada: jogador de futebol, piranha, patricinha
bêbada, garota de programa, gays de todas as classes, garotos de programa,
músicos, artistas de TV e cinema, donos de grandes casas de turismo, comerciantes
e comerciários, presidentes e diretores gays de grandes empresas.
Nos
anos sessenta os play boys chegavam de lambreta
e
corrente na mão. A pancadaria era geral e quem tinha perna fugia mesmo
tropeçando no salto alto do sapato.
No
início da década de 60 era desse jeito: homem que não era homem era veado,
bicha ou travesti; mulher que não era mulher era paraíba, machorra ou sapatão e
garoto de programa era michê.
Nos
anos 70 a barra ficou mais leve. Na área funcionavam os bares da Atlântica, os
botecos pé sujo de dentro da galeria, cinema, teatro e uma das mais famosas
discotecas da época, o Sótão Disco Club.
O
Sótão era uma discoteca gay, destinada a homossexuais e simpatizantes, os donos
eram gays, assim como o gerente, o chapeleiro, o guardador de casacos e bolsas
na imitação de casas noturnas da Europa. Até o gato miava diferente.
Todos
eram bibas e o Sótão tornou-se uma verdadeira “Bibalônia”. Por lá mataram
Almir, um baixinho invocado que jogou pelo Vasco, Flamengo e Bangu. Se não foi
isso foi quase isso.
Houve
uma época distante na qual o Ministério das Relações, o Itamaraty, resolveu dar
um refresco aos homossexuais e alcoólatras da casa de Rio Branco. Vinícius de
Moraes estava na lista dos dispensados.
Dizem
os amigos e relataram os cronistas da época que, ao chegar ao aeroporto,
Vinicius já anunciou aos presentes: “Eu sou bêbado!”. E foi pra Ipanema abrir
os trabalhos.
RODAPÉ - O artigo de hoje é dedicado ao presidente da Comissão dos
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados o ínclito, pacifista, sensível,
emotivo, cristianíssimo, sem falsos pudores, humanitário, incompreendido e fofo
deputado federal e pastor Marcos Feliciano (PSC/SP). O autor. (Carlos Eduardo Behrensdorf)