O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

29 de jan. de 2011

Da revolta à revolução

Você acha que há em todo brasileiro um espírito de corpo de bombeiro para sair por aí buscando justiça com as próprias mãos? Pois está obesamente enganado. Cada revolta processada no Brasil foi sempre por indução de grupos subterrâneos que se atiravam de corpo e alma contra o poder dominante, ao desassombro da mais pura versão feminina da expressão popular "a torto e a direito".

O governo cometido no Brasil há mais de oito anos descobriu que toda convicção tem seu preço. Foi só abrir o balcão de oferta & procura.

Vendeu a alma, mas em contrapartida comprou todos os espíritos de corpo e de porco que poderiam projetar sombras pesadas em seu regime dietético de democracia.

Os negócios frutificaram de tal forma que hoje o governo não tem opositores. Numa democracia light no fluxo de seus princípios não basta ser oposição, tem que participar. E assim é que o Estado atual tem status de sócio do Congresso, dos sindicatos de amos e súditos, da UNE que faz a força, do MST que plantando tudo dá e tira, da CGT e da CUT, do código da barra dos tribunais, de ONGs excencialmente governamentais, de fundos perdidos, de institutos sem instintos, de estatais estateladas.

Desse cesto básico de ofertas de ocasião, a OAB ainda permanece incólume na gondola dessa demolidora "estratégia de coalizão pela governabilidade". Nesse jogo de compra e venda a OAB é ainda o antigo e amortecido clube de São Januário: Vasco é Vasco, o resto é o resto.

Tomara que não se deixe contaminar pela pressão da torcida que só gosta de vitórias, a qualquer custo.

Assim é que um dia você ainda vai descobrir que indignação é um sentimento individual, que nasce em cada um de nós e que, para chegar a ser revolta, precisa da indignação dos outros. Vai entender também que para uma revolta chegar a ser uma revolução, os outros - tanto quanto você - não podem ter preço; seja qual for o valor de mercado: de uma simples bolsa Kelly a uma valiosa bolsa-família.

Sair da revolta para a revolução é mais ou menos assim como trocar o Corpo de Bombeiros pelos corpos do bombeiro.

É quando a capacidade de indignação rompe todos os limites da tolerância. É quando a arte de conviver não tem mais nada a ver com a saga de viver. É quando o homem deixa de ser justo para ser justiceiro.

É porque as revoltas que viram revoluções jamais são feitas com a ternura dos espíritos desarmados.