A POSSE
Por favor me acompanhem; eu tive estômago, vocês são mais fortes do que eu. Aguentem, como eu aguentei.
Por favor me acompanhem; eu tive estômago, vocês são mais fortes do que eu. Aguentem, como eu aguentei.
Brasília, 1° de janeiro de 2015, quinta-feira, feriado.
15 horas
Começa o périplo da bipresident@ do Brasil Dilma da Silva. Ela chega de carro, ao carro de capota aberta. É o Rolls Royce aquele, ano 1952 que ninguém mais usa.
Antes de acomodar-se, com a filha de carona, Dilma abana para um monte de bandeirantes da CUT e uns portadores de bandeiras estreladas de uma facção do PT que nutre fiel simpatia pela hoje simpática senhora.
E lá se foi Dilma em pé, toda fashion num modelito rendado entre bege e salmon, ao lado da filha vestida de vermelho gritante e sorriso faceiro. E a CUT ali, firme no mais...
Tinha mais polícia montada em moto e segurança de roupa preta do que povo no trajeto que leva Dilma ao Congresso Nacional, onde vai ser consagrada eleita, diplomada e empossada. Empossada, sim; empoçada, ainda não.
Uma dúzia de guarda-costas, de fatiota preta, óculos da mesma cor, gravata e fones de ouvido, mostra preparo físico correndo ao lado do Rolls Royce que, de quando em vez, por implicância do motorista acelera um pouco só para ver os seguranças mostrarem que são capazes de sair dali com o Cooper feito.
15h 08m
Dilma foi recebida por Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, donos do Senado e da Câmara de Deputados, respectivamente. E aí, até que enfim, uma figura ímpar e respeitosa surge aos olhos de quem, como eu, segue os passos do périplo presidencial: a jovial esposa do vice Michel Temer, a vice-dama da República, a esplendorosa Marcela Tedeschi Tmer que há longos cinco anos de feliz consórcio carrega essa cruz de joviais 75 anos de idade.
15h 10m
Recebida pelos dois, logo estava frente a frente com o dono da Corte Lewandowski. Chii, beijou Leandowski! Refeita, foi em frente. Mandou os guarda-costas se afastarem um pouco. Afinal, eles tinham corrido todo engravatados cerca de 15 minutos sob sol inclemente. O suor sempre causa esse tipo de mal-estar nos outros...
E Dilma – imaginem – sorria. Agora sei aqueles dois dentões de Mônica, não são montagem fotográfica nem coisa para o You Tube nem para o Facebook ou coisa que o valha. São dela mesmo.
15h 11m
O cordão de puxa-saco cada vez aumenta mais. Dilma já está diminuindo a largura do sorriso. Está demorando a chegar à mesa do Congresso para então fazer o seu segundo juramento oficial.Dilma, de quando em vez, leva as mãos aos brincos. Confere: eles ainda estão lá.
15h 25
Ufa! Chegou sã e salva. Sentou-se à mesa. Está cercada por Alves, Renan, Michel Temer, Lewandowski e outros de somenos, como o Chinaglia, como vice-líder de alguma coisa na Casa.
Dilma foi apresentada ao público presente, com meia dúzia de gatos pingados de outros países. E surpresa!... Dilma não foi vaiada.
15h 28m
Hino Nacional na fanfarra. E eu aqui, perdendo tempo vendo se Dilma sabe a letra. Ah, é feriado e não tem futebol na TV. E eu penso em vocês. Vou contar o que estou vendo, até quando meus nervos me permitam aguentar.
Vi agora, de relance, o Zé Mujica que já não preside mais o Uruguai. Veio de amigo que é. Não tá fumando nada, nem tomando mate. Acho que não deixam naquele recinto.
Parece que vi. Vi, sim a Michele Bachelet, toda de verde berrante. Parece um abacate. Vi também, dentre as autoridades visitantes, um árabe em trajes típicos. Acho que explora petróleo.
15h30
Dilma leu o juramento. Prometeu ser boazinha e respeitar a Constituição. . Aí, Michel Temer fez a mesma coisa. Essa cara repete tudo que a Dilma faz. Pelo visto os dois vão defender a Constituição, doa a quem doer. E aí, bem-feito! Coube a Renan Calheiros consagrar os dois.
15h37
Dilma começou a discursar. Sem telepromter! Decorou bem o improviso. Falou 43 minutos, sem parar. Ia bem... Falou que estava com a alma cheia de alegria e de responsabilidade.
Depois mencionou a “alma coletiva, o projeto de nação” com que ela representa o povo brasileiro... Aí, minhas irmãs e meus irmãos, minhas brasileira e meus brasileiros, começou a desfiar seus números imaginários.
15h50
Dilma falou de geração de empregos, de casas, creches e similares e então... Pois é, aí então ela soltou: “Nunca antes na história desse país se combateu tanto a corrupção”.
Desculpem, quase desliguei a TV. Mas, quase não vi nem ouvi mais nada. Já dormitava quando ainda escutei o que não pensei que escutaria de sua boca de dentes grandes e brilhantes: “ O povo quer mudança. Eu também quero”!
Pronto! Confessou!
Era o que eu estava esperando. Mas pensei que esse dia nunca chegaria, em se tratando de quem se trata o delator.
Vocês viram, minha gente e minha genta! A presidente@ Dilma confessou que não gostou do governo anterior.
Confessou que sabe o quanto o povo também não gostou e por isso quer mudança. E ela também quer! Ela também!
Ah, minha gente e minha genta... Se eu soubesse que ela seria tão PSDB assim, tão tucana assim desse jeito que está sendo, acho que até o Aécio e o FHC teriam votado nela.
E pra mim deu. Não quis ver mais nada. Vim aqui, só para lhes contar a novidade: Dilma confessou!
16h52
Ah sim... Dilma no meio da falaçada prometeu fazer a reforma política. Mas isso, não é confissão. É só mais uma promessa das mil e uma que sempre faz quando tem uma plateia que não a contempla com apupos e vaias.
16h 57m
Epa!
Dilma já saiu do salão verde do Congresso. Chegou inclusive ao tapete vermelho da rampa. Ainda tem mais coisa na agenda de hoje da bi-president@. Epa de novo! Ela passou a tropa em revista.
Sei lá, têm-se a impressão de ela não anda lá essas coisas de sapato de salto alto. Mas está vencendo a rampa. Pegou o carro sem capota outra vez. E retoma os acenos costumeiros à plateia agradecida da CUT e da facção dilmista do PT que descaram dos ônibus contratados pela CUT, CTB e uma que outra central sindical. Ei, surgiu uma bandeira com as cores do arco-íris.
17h 07m
O carro sem capota de algum museu da República nas garagens do Palácio se dige justamente para lá. Não, para a garagem não; para o Palácio. O carro vai parar na rampa. E, recebida com Michel temer, sobe a dita cuja com ele. Um segurança ou alguém do cerimonial, orienta que os dois parem um pouco por ali. Tá um solaço. Dilma vai mandar demitir esse cara.
17h 13m
Dilma subiu a rampa. Tá contente. Seus dentes não cabem na boca. Eita! Dilma colocou a faixa na Dilma. E agora, dê-lhe que te dê-lhe o Hino Nacional.
Opa! Lula está por lá. Foi beijado propositalmente por Dilma Isso tá ficando meio assim, assim. Com seu jeitão de abajur bem decorado, Dilma chega enfim ao parlatório. Ela começa a falar. Está diante de um discurso escrito.
Aí vem coisa... Mas, desculpem... Não aguento mais. Ela vai falar que vai mudar o Brasil; porque o povo quer. E ela também.
MORAL DA HISTÓRIA - Nem ela e nem o povo gostaram do governo anterior.
FIM