O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

13 de set. de 2013

Celso de Mello, um Arquimedes moderno

Não há que confiar jamais em um poder demasiado grande

Esse pênalti que vai ser cobrado na quarta-feira por Celso de Mello, o mais experiente do time de julgadores supremos desse grande clube chamado Brasil, é uma eletrizante demonstração do quanto podemos ser ou não ser todos iguais perante à lei.

Falando sério... Celso de Mello é um resumo absoluto do poder de decisão que um homem pode exercer sobre a espécie dos bípedes que habitam este País. É um Arquimedes moderno que tem na sua cabeça o ponto de apoio consagrado que lhe permite mover a terra: o "notável saber jurídico".

O que será dos réus acusados de corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e outros malfeitos na mão e na alma desse ente superior, alçado à condição de paladino da Justiça, pouco me importa e pouco se me dá.

Essa pandilha já foi condenada à execração pública e notória; esse bando já não engana a mais ninguém; temos todos repulsa e medo de cada um deles. Nem todos nesse País, no entanto, nutrem aversão pelo que eles sempre foram e sempre serão. Ou não haveria quadrilhas nem quadrilheiros nessa vida.

O que Celso de Mello vai fazer com a nação brasileira é que provoca medo. Não pela decisão em si, mas pelo que o sistema tem de poder absoluto sobre um povo. O que dá pavor é aquilo tudo que o povo possa ver de liberalidade a partir da procrastinação, da eternização, do alongamento despropositado de processos que não levam os autores de delitos à merecida punição.

O que me amedronta é que a porteira seja aberta, pois o povo sabe que por onde passa um boi, passa a boiada. E vai querer passar também.

De repente, os anseios, a visão da imensa maioria são esmagados pela consciência de que, aquele homem ali, em nome da lei e da justiça, tudo pode naquele exato momento quanto ao destino dos dois lados da mesma questão.

Não absolverá ninguém; condenará os réus ou a sociedade e, inevitavelmente, ambos a um só tempo. A vitória de uns será a derrota de outros. Celso de Mello tem este supremo poder.

O ministro de todos os ministros nesse momento do Supremo é Celso de Mello, um juiz que transmite a sensação de que, tendo a nação inteira aos pés da sua autoridade de traçar destinos consegue ser mais que um juiz, um poderoso que, felizmente, parece ser mais admirado do que temido.

Fica-me, porém, o sentimento que me aborrece e que me diz que tudo devo temer sempre que me vejo diante de uma situação em que alguém tudo pode.

Quarta-feira, nesta hora da verdade sei que vou olhar para Celso de Mello e ver em suas feições os traços de um Robespierre, de um Lenin, um czar, o rei de um dia, o tirano legal de boas intenções, o ministro supremo de notável saber jurídico, decidindo sobre o futuro dos mensaleiros que seus doutos pares e ímpares - nem todos de tão notáveis saberes - lhe deixaram nas mãos.

Verei nesta quarta-feira, Celso de Mello decidindo mais, decidindo o futuro dos malfeitores, dos brasileiros vítimas de seus malfeitos, do Estado esbulhado e do próprio Supremo Tribunal Federal.

Eu não gostaria de estar na pele de Celso de Mello; ninguém deveria gostar de estar na pele dele; nem Celso de Mello deveria estar gostando disso tudo como Celso de Mello me parece estar gostando.

RODAPÉ - Não há que confiar jamais em um poder demasiado grande. (Tácito).