Não há que confiar jamais em um poder demasiado grande
Esse pênalti que vai ser cobrado na quarta-feira por Celso de Mello, o mais experiente do time de julgadores supremos desse grande clube chamado Brasil, é uma eletrizante demonstração do quanto podemos ser ou não ser todos iguais perante à lei.
Falando sério... Celso de Mello é um resumo absoluto do poder de decisão que um homem pode exercer sobre a espécie dos bípedes que habitam este País. É um Arquimedes moderno que tem na sua cabeça o ponto de apoio consagrado que lhe permite mover a terra: o "notável saber jurídico".
O que será dos réus acusados de corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e outros malfeitos na mão e na alma desse ente superior, alçado à condição de paladino da Justiça, pouco me importa e pouco se me dá.
Essa pandilha já foi condenada à execração pública e notória; esse bando já não engana a mais ninguém; temos todos repulsa e medo de cada um deles. Nem todos nesse País, no entanto, nutrem aversão pelo que eles sempre foram e sempre serão. Ou não haveria quadrilhas nem quadrilheiros nessa vida.
O que Celso de Mello vai fazer com a nação brasileira é que provoca medo. Não pela decisão em si, mas pelo que o sistema tem de poder absoluto sobre um povo. O que dá pavor é aquilo tudo que o povo possa ver de liberalidade a partir da procrastinação, da eternização, do alongamento despropositado de processos que não levam os autores de delitos à merecida punição.
O que me amedronta é que a porteira seja aberta, pois o povo sabe que por onde passa um boi, passa a boiada. E vai querer passar também.
De repente, os anseios, a visão da imensa maioria são esmagados pela consciência de que, aquele homem ali, em nome da lei e da justiça, tudo pode naquele exato momento quanto ao destino dos dois lados da mesma questão.
Não absolverá ninguém; condenará os réus ou a sociedade e, inevitavelmente, ambos a um só tempo. A vitória de uns será a derrota de outros. Celso de Mello tem este supremo poder.
O ministro de todos os ministros nesse momento do Supremo é Celso de Mello, um juiz que transmite a sensação de que, tendo a nação inteira aos pés da sua autoridade de traçar destinos consegue ser mais que um juiz, um poderoso que, felizmente, parece ser mais admirado do que temido.
Fica-me, porém, o sentimento que me aborrece e que me diz que tudo devo temer sempre que me vejo diante de uma situação em que alguém tudo pode.
Quarta-feira, nesta hora da verdade sei que vou olhar para Celso de Mello e ver em suas feições os traços de um Robespierre, de um Lenin, um czar, o rei de um dia, o tirano legal de boas intenções, o ministro supremo de notável saber jurídico, decidindo sobre o futuro dos mensaleiros que seus doutos pares e ímpares - nem todos de tão notáveis saberes - lhe deixaram nas mãos.
Verei nesta quarta-feira, Celso de Mello decidindo mais, decidindo o futuro dos malfeitores, dos brasileiros vítimas de seus malfeitos, do Estado esbulhado e do próprio Supremo Tribunal Federal.
Eu não gostaria de estar na pele de Celso de Mello; ninguém deveria gostar de estar na pele dele; nem Celso de Mello deveria estar gostando disso tudo como Celso de Mello me parece estar gostando.
RODAPÉ - Não há que confiar jamais em um poder demasiado grande. (Tácito).