Jessica Bruder - Nova York (EUA)
Feira no Brooklyn, em Nova York, vende máquinas de escrever
Como neste Sanatório nem tudo é o que parece, o Rodapé de hoje virou Cabeçalho. Mesmo assim, nunca se sabe o que o diretor opinará. Esta matéria está tão bem feita que vai na integra, com todos os créditos e merece ser relida no domingo. Pela pesquisa e preservação do texto original e dois comentários, Carlos Eduardo Behrensdorf, Brasília.
Mesmo para os padrões do Brooklyn, foi um espetáculo curioso: doze máquinas mecânicas estavam em cima de uma toalha de mesa, emitindo sons ocasionais. Os compradores olhavam para a tenda, entusiasmados, porém, hesitantes, como se tivessem tropeçado sobre um tesouro de invenções estranhas de uma história de Júlio Verne. Alguns tiraram fotos com seus iPhones.
“Posso tocá-la?”, pediu uma jovem. Com a permissão garantida, ela apertou duas teclas ao mesmo tempo. A máquina enroscou. Ela recuou como se tivesse levado uma mordida.
“Estou apaixonado por todas elas”, disse Louis Smith, 28, um percussionista alto e magro de Williamsburg. Cinco minutos depois, ele comprou uma Smith Corona Galaxie II, de 1968, por US$ 150. “É uma questão de permanência, de não ser capaz de deletar”, explicou. “Você precisa ter uma certa convicção nos seus pensamentos. E esta é toda a minha filosofia sobre as máquinas de escrever.”
Sabendo ou não, Smith se juntou a um movimento que está crescendo. As máquinas de escrever manuais não estão desaparecendo na era digital. As máquinas têm atraído novos entusiastas, muitos jovens o bastante para não guardarem nostalgia pelas fitas gastas, dedos manchados e líquido corretor. E diferentemente dos datilógrafos de outrora, esse pessoal não está digitando na solidão.
Eles estão cultuando velhas Underwood, Smith Corona e Remington, reconhecendo-as como máquinas bem desenhadas, funcionais e bonitas, trocando-as e exibindo-as para os amigos. Numa série de eventos chamados “type-ins”, eles têm se reunido em bares e livrarias para ostentar um tipo de dignidade e estilo pós-digital, escrevendo cartas para mandar pelo correio e competindo para ver quem consegue datilografar mais rápido.
Donna Brady, 35, e Brandi Kowaski, 33, das Máquinas de Escrever Brady & Kowaski, fazem parte da subcultura dos revivalistas, que venderam a Smith Corona Galaxie II já mencionada numa tarde recente de sábado no mercado de pulgas do Brooklyn, uma feira de artesanato e antiguidades.