“Abre-te, Sésamo!”
A Senha persa do "Estamos juntos nessa!"
Um dia, lá na antiga Pérsia, mais conhecida nos dias de hoje por Irã, o paupérrimo Ali Babá estava cortando lenha quando viu uma nuvem de poeira. Era um bando de homens a cavalo que vinham na sua direção. Com medo que fossem bandidos, subiu numa árvore perto de um grande rochedo. Escondeu-se ali em meio à folhagem.
Dali, ele via tudo e todos sem ser visto por ninguém. Logo chegou àquele lugar uma pandilha de homens muito fortes e muito bem armados, com caras de pau. Ali Babá contou um por um e chegou à soma e à conclusão de que eram 40 ladrões.
Os homens apearam dos cavalos e colocaram no chão, pesados sacos cheios de ouro e prata. O mais rechonchudo dos larápios – com todo jeitão de chefe – aproximou-se do rochedo e disse:
- Abre-te Sésamo!
Assim que a voz rouca da rua se fez ouvir, abriu-se uma porta na pedra que dava para uma caverna. A bandidagem passou por ela e a porta se fechou. Depois de bom tempo a passagem do esconderijo voltou a se abrir. Os quarenta ladrões saíram de lá a galope. Ali Babá, na maior moita, ouviu então o brado do chefão:
- Fecha-te, Sésamo!
A porta obedeceu, os ladrões colocaram os sacos vazios em suas montarias e voltaram a galope pelo mesmo caminho pelo qual tinham vindo. Partiram em busca de mais saques e mais sacos de ouro, prata, diamantes, joias, quem sabe até petróleo.
Quando se viu em segurança, Ali Babá desceu do galho, dirigiu-se na maior intimidade para arrocha e disse:
- Abre-te, Sésamo!
A porta da caverna se abriu. E aí foi então que Ali Babá ficou bilionário. E foi feliz e rico até o dia em que, de tão confiante e poderoso, pisou na bola na hora em que saía uma vez mais da caverna que tinha muito mais que 11 caminhões de pilhagens incalculáveis:
- Fecha-te, Cevada!
A porta não entendeu bulhufas. E aí começou a desgraça de Ali Babá. Ele virou picadinho antes mesmo de entender a importância de uma senha secreta na vida de um bandido.
E então vocês estarão a esta altura, doidinhos da silva para me perguntarem, o que foi que me deu na cabeça para lembrar uma fábula tão antiga, numa hora como essa, nesse Brasil da Silva às vésperas de uma Copa do Mundo que vai decidir as eleições para a Presidência no ainda longínquo dia 5 de outubro?
Digo-lhes eu: - Deu nada, não. E explico: eu só me lembrei dessa fábula do Livro das Mil e Uma Noites porque fiquei sabendo que, outro dia, logo em seguida que Zé Dirceu e seus 40 mensaleiros foram surpreendidos pela Lei, alguém telefonou para eles na Papuda e deu o sinal de vida:
- Estamos juntos nessa!
Como, depois disso, o companheiro telefonador jamais apareceu na caverna, a voz rouca das ruas ficou parecendo ser mais que uma senha; ela soou como um alerta, um aviso tipo assim:
- Te cuida, companheiro! Não revela a senha. Nem a senha, nem nada.
Como ninguém nessa história atual tem vocação para ser Celso Daniel, ou Toninho do PT, nenhum dos avisados esqueceu a senha e todos, sempre que necessário, repetem uníssonos:
- Estamos juntos nessa!
E vão levando a vida numa boa, na base do “um por todos e todos por um”. Pronto, foi só por isso que me deu vontade de fazer essa releitura da fábula do Ali Babá e os 40 Ladrões.
E já que vocês estavam curiosos para saber de mim, eu quero agora saber de vocês:
- Estamos juntos nessa?!?