Sabe lá você por que os políticos estão sempre com cara de quem é feliz da vida? É porque, na vida, é feliz nas coisas deste mundo, aquele que não se acha obrigado - pelas armações do destino - a colocar à prova a lealdade e a fidelidade de seus próximos.
Fossem pessoas e não políticos, eles conheceriam a dor de uma punhalada nas costas, saberiam o desencanto de quem eles enganam. Políticos são felizes sempre. E quanto mais enganam aqueles que lhe têm confiança, maior é a sua carga de felicidade. Para eles é mais fácil do que para as pessoas.
A felicidade da traição, por pequena e bem-vinda que seja, é para as pessoas - jamais para os políticos - uma razão verdadeira para fazer a infidelidade valer muito mais do que a mesmice de permanecer fiel.
No fundo, no fundo, o político é a metamorfose ambulante do que um dia foi uma pessoa. E aí, a fidelidade lhe parece uma virtude que embeleza tanto a vida quanto a escravidão. Hoje, vendo o mundo que me cerca, me deu vontade de ser político. Quero ser feliz da vida.
Tô até me sentido, meio assim. Um zoón politikon, um animal social feliz por me sentir capaz de uma fiel deslealdade. E não! Nunca, jamais!... Não sou político. Sou, como você, apenas uma pessoa.