JANEIRO
O Fome Zero completou sete anos e zerou. O cupom que era trocado por alimentos foi embolsado pelo Bolsa-Família, uma das "heranças malditas" de FHC. Maldita, mas bem-vinda. Virou o embrião-mor da ociosidade remunerada no Brasil.
FEVEREIRO
Teve até carnaval. Mas, a gandaia mesmo foi o lançamento do programa ideal de governo que Dilma não leu. O pau comeu. O próprio PT mandou editar um novo plano de poder mais suave. Antes que os trâmites fossem dados por findos, um terceiro papelucho definitivo surgiu. E é o que está valendo agora. Pra quem quer e gosta.
MARÇO
O tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi alvejado pelo Caso Bancoop. O Ministério Público pediu a quebra de sigilo bancário e fiscal do petista finório por envolvimento no esquema de desvioi de muita grana da Coopperativa Habitacional dos Bancários... E Dilma ainda ficou braba. Chamou as acusações legais de "tentativa de resgatar 2005", numa clara e imoral referência ao escândalo do mensalão.
ABRIL
Zé Alencar, em nome da estratégia de coalizão, desistiu de concorrer ao Senado. Fez isso de tão boa vontade que sua saúde acabou piorando desde então. Hoje depois de 17 cirurgias contra o câncer, Zé Alencar está pronto para assistir pela TV a cerimônia de despedida de Lula que, por uma incr´vel coincidência, se dará no mesmo dia em que é celebrada a posse de Dilma, a primeira-presidenta.
MAIO
Como se não faltasse mais nada, nem mesmo um Tiririca para animar as galerias, surge em maio a palhaçada dos atos secretos no Senado. Principais protagonistas: Zé Sarney e seu rebento Fernando Sarney. O guri medonho foi indiciado pela Polícia Federal, acusado de remeter ilegalmente dinheiro para fora do País. Foi pouca coisa, evasão de divisas: uma remessa de US$ 1 milhão feita por ele a uma agência do HSBC em Qingdao, na China. Tudo deu em nada. Menos para o jornal o Estado de São Paulo que foi censurado e proibido de tocar no assunto. Como se vê o Congresso já era um circo há muito tempo; bem antes de Tiririca que não tem culpa nenhuma.
JUNHO
O deputado Michel Temer oficializou-se candidato a vice na chapa de Dilma à Presidência durante convenção nacional de seu partido. Deu uma lavada de 560 votos contra apenas 100 em Pedro Simon que lutava por uma candidatura própria do PMDB. Em São Paulo, Orestes Quércia, esperneou e apoiou os tucanos. Temer teve que ser engolido. Inclusive por Lula e por Dilma. É hoje o vice-mais presidente da história do Brasil.
JULHO
Começa oficialmente a campanha eleitoral, bem depois daquela que Lula vinha fazendo por Dilma há mais de um ano. Estoura em São Paulo a campanha de Tiririca: "Pior do que tá, não fica!". Quem riu da palhaçada se deu mal: o palhaço - que já virou humorista - meteu mais de um milhão e 300 mil votos.
AGOSTO
Dilma, candidatíssima, defende em sua campanha a tese de que para governar é preciso uma “aliança ampla” e prega a aproximação do atual governo com os ex-presidentes Zé Sarney e Fernando Beira-Collor. Assim, de cara, a coisa pareceu ofensa; depois, o brasileiro acostumou - comme d'habitude.
SETEMBRO
Orestes Quércia desistiu da candidatura ao Senado para tratar de um câncer na próstata do qual já havia tratado anos atrás, só para ser redundante. Não indicou nenhum correligionário para concorrer em seu lugar. O ex-governador, só por birra, resolveu apoiar o companheiro de chapa, o tucano Aloysio Nunes Ferreira. Orestes Quércia sabia muito bem o que fazia. Nos dois casos: o azarão Aloysio disparou nas pesquisas e chegou relaxado e gozado à frente de Marta Suplicy; o câncer na próstata era mesmo muito sério.
OUTUBRO
Foi o mês de crescimento de Marina, a que se pintou de verde. Ela forçou o segundo turno entre Dilma e o cansativo Zé Serra. Marina Silva foi a causadora do sepultamento político de Serra que já morreu e não sabe. Marina teve 19,6 milhões de votos, cerca de 20% dos votos válidos. Até Lula e Dilma, os dois que a defenestraram do Ministério da Mata Atlântica ficaram bajulando Marina até o dia da juizo final.
NOVEMBRO
É formada a equipe responsável pela transição de governo. Os primeiros nomes foram Antonio Palocci e Zé Eduardo Dutra. Michel Temer - que estava de fora - saltou fora das tamancas e ameaçou com o blocão dos descontentes. Lula e Dilma foram enquadrados. Enfim, Temer mostrava que era mesmo o vice-presidente. Foi então incluído na turma da coordenação.
DEZEMBRO
Até que enfim, o ano político está sendo empacotado. Já foi Natal e o Brasil ganhou de presente Antonio Palocci como chefe da Minha Casa Civil, Minha Vida - ponto referencial do governo petista nesses últimos oito anos.
Os 37 ministros de Dilma já estão consagrados. A grande expectativa agora é a cerimônia de Lula descendo a rampa que, por acaso, coincidirá com a celebração de Dilma como rampeira do Palácio. Quando isso acontecer, dezembro de 2010 já será janeiro de 2011.