Eu nasci em 39, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, exatos 25
anos depois de minha mãe, Evalda Thereza que veio ao mundo quando
estourou a 1ª Grande Guerra.
Assim como ela, eu também
juro por "essa luz que me ilumina" - como jurava o Canelão - que nem eu e
muito menos ela tivemos qualquer coisa a ver com isso.
Quero
dizer apenas que, naquelas duas épocas de pós-guerra, não se passava
fome e, até pelo contrário - salvo o pão, escuro e endurecido pela
escassez da farinha e do fermento - se comia do bom e do melhor.
É
que, 90% do que vinha para mesa saía dos quintais de nossas casas.
Pelotas era uma cidade emergente, cercada de quintais por todos os
lados. E tinha uma enorme vocação colonial. Tanto quanto um entreposto
comercial, era uma cidade de sólida produção agrícola e boa vida
pecuária.
Aí vieram os tambos; e vieram os colonos para o
colégio e a região rural da minha pátria pequena que deixei aí no Sul
foi se esvaziando e, a pouco e pouco, paulatina e rapidamente a Colônia
descobriu que era mais bonito viver de turismo. Hoje, não vive,
sobrevive disso aos trancos e barrancos, com enorme saudade dos tempos
campesinos e da vida de gado.
O que eu quero dizer é que
hoje, a velha geração se contenta com a distância dos filhos e netos,
desfrutando de tudo quanto lhe sobra do pequeno salário da grande
aposentadoria rural.
O que quero dizer mesmo é que seus
filhos e netos gostam mais de viver na cidade gozando uma degradante
bolsa família, na esperança de ter um dia a sua casa, sua vida, do que
usar a digna enxada, ou viver as manhãs de ordenha e as tardes da volta
do rebanho aos currais que um dia fizeram Pelotas ser uma cidade
pungente e rica.
Nasci em Pelotas, durante a Segunda
Guerra Mundial, comi do bom e do melhor. Os dias de feira eram todos os
dias, sem sair de casa, num rotineiro passeio pelo quintal colhendo
frutas e legumes, nesses pequenos e férteis pedaços do solo brasileiro
onde, em se plantando, tudo dá.
Parece mentira, tenho saudade daqueles tempos difíceis. Eram bem melhores do que são os dias atuais.