PINGAFOGO F.C
Marcelo Câmara
Marcelo Câmara
APRESENTAÇÃO - Os prolegômenos são do jornalista Carlos Eduardo Behrensdorf que, de Roma, agraciou o Sanatório da Notícia com mais um interno de peso: Marcelo Câmara. Então veja como o Garça foi exato, claro e conciso com o novo cobra-criada aqui da redação. Leia:
"Pois bem, Marcelo Câmara inícia hoje sua participação neste Sanatório que, gradadivamente aumenta o número de hóspedes declarados.O Marcelo é afirmativo e não foge de um bom debate. Por exemplo, aqui vão três peças de sua autoria que têm como tema principal a bossa-nova.Bom proveito"! (Carlos Eduardo Behrensdorf).
Pingafogo F.C – Não é o que se pode imaginar. O F pode ser de futebol e o C de clube; mas é pouco provável que o sejam para um carioca que, se não é Flamengo nem Fluminense, sofre com a bola murcha do Bota que, no máximo, Pingafogo; pode mais, no entanto: ser - ainda que mal me expresse e, com o perdão da grosseria – um vascaíno, como eu. Não há qualquer probabilidade de que Marcelo Câmara torça pelo América ou pelo Bangu que já não é mais time; é só uma triste rima. PINGAFOGO F.C. pode ser apenas título da coluna aqui no Sanatório da Notícia e o F e o C de Fantasia e Cultura, respectiva e necessariamente nessa ordem. Por quanto mais não seja, fica esse título até que o autor da coluna o troque por outro, ou deixe-o assim como está, porque pouco se lhe dá e é só pra ver como é que fica. Daqui pra lá, o texto é todo de Marcelo:
Meus amigos,
Minhas amigas,
Meus amigos,
Minhas amigas,
Em agosto escrevi à editora que produziu a Coleção Folha 50 anos de Bossa Nova (livreto e CD) e ao jornal Folha de São Paulo para lamentar a ausência, entre os artistas selecionados, do pianista e compositor Newton Mendonça (1927-1960). A Coleção, lançada no dia 10 de agosto de 2008, é vendida todos os domingos nas bancas. Fiz severa crítica aos critérios de seleção dos eleitos, apontando o erro como mais um golpe da famigerada "história oficial da Bossa Nova" contra a Música Popular Brasileira.
A editora, depois de entrar em contato com o planejamento e redação da Coleção, me informou que o profissional responsável pela Coleção "também tem enorme respeito e admiração por Newton Mendonça, mas a Folha privilegiou os intérpretes da Bossa Nova e Newton Mendonça não é interprete e sim compositor". O editor acrescentou: "Se notar, em vários discos foi feita a escolha de musicas em que Newton é o Autor, exatamente pra realçar sua veia de Bossa Nova e não deixar passar esse grande compositor despercebido". Diante da desarrazoada e injustificável resposta, enviei outro e conclusivo protesto à Editora.
Abaixo os textos das duas cartas encaminhadas à Editora.
Abaixo os textos das duas cartas encaminhadas à Editora.
Rio de Janeiro, 11 de agosto de 2008.
À Editora Mediafashion
À Folha de São Paulo
À Folha de São Paulo
Senhores,
Saúdo o lançamento da Coleção Folha 50 anos de Bossa Nova, lamentando a grave e injustificável ausência do mais importante artista do gênero: o pianista revolucionário e compositor de vanguarda Newton Mendonça (1927-1960). Compositor que nos deixou 35 músicas (17 de criação exclusiva, 17 com Tom Jobim e 1 com Fernando Lobo), Newton foi, ao lado de Johnny Alf e Tom Jobim (e acima desses dois), o criador por excelência da nova estética.
Saúdo o lançamento da Coleção Folha 50 anos de Bossa Nova, lamentando a grave e injustificável ausência do mais importante artista do gênero: o pianista revolucionário e compositor de vanguarda Newton Mendonça (1927-1960). Compositor que nos deixou 35 músicas (17 de criação exclusiva, 17 com Tom Jobim e 1 com Fernando Lobo), Newton foi, ao lado de Johnny Alf e Tom Jobim (e acima desses dois), o criador por excelência da nova estética.
Dos três, o principal compositor inovador no terreno composicional, estrutural (melodia, harmonia e ritmo), o de maior lastro, consciência e consistência artística, que significou a verdadeira vanguarda, a ousadia, a ruptura, a novidade na Música Popular Brasileira que, antes de todos, anunciou e, depois, fundamentou e inaugurou a Bossa Nova. João Gilberto é a revolução no campo da criação rítmica e interpretativa, criador da batida que sistematizou e interpretou a demanda estética dispersa no Rio da época. João personifica, é o arauto da nova música. Já Newton Mendonça é a criação feita Bossa Nova.
Além de ser o criador de uma obra bossa nova em essência, exclusiva, sem parceria, ele concebeu (e trabalhou com Tom) as idéias musicais, é o melodista, dos hinos e matrizes do novo samba, compostos pela dupla New-Tom, a mais importante da Bossa Nova (Desafinado, Samba de uma nota só, Meditação, Discussão, Foi a noite, Só saudade, O domingo azul do mar). Newton criou, sozinho, no inverno de 1954, a música e a letra da primeira parte do Samba de uma nota só, a obra-síntese, a bomba estética da Bossa Nova, sua principal matriz e hino. E fez com Tom a segunda parte, quatro anos depois. Newton é, ainda, o autor exclusivo da música de Meditação.
A lista dos artistas da coleção elegeu letristas e até intérpretes, omitindo o mais importante, seminal, a verdadeira vanguarda da Música Popular Brasileira na década de 1950: o menino pobre, órfão e tímido nascido no Caxambi, Newton Ferreira de Mendonça, que se transformou no mais ipanemense dos compositores brasileiros. A iniciativa da coleção, louvável como disse, ao ignorar Newton Mendonça, avilta-se, enodoa-se, apresenta-se como mais um golpe solerte e ignóbil de uma infame e prevalecente "história oficial da Bossa Nova", que domina a mídia e a bibliografia, repleta de invencionices, ficções, deformações e mentiras, e que, há 48 anos, reduz, corrompe ou elimina o nome, a obra, a memória, o legado de Newton Mendonça, e de outros grandes criadores, entronizando falsas vanguardas e mitificando acólitos, personagens apenas participantes ou secundários do gênero.
Cordialmente,
Marcelo Câmara.
Rio de Janeiro, 23 de agosto de 2008.
Senhor Editor,
Marcelo Câmara.
Rio de Janeiro, 23 de agosto de 2008.
Senhor Editor,
A explicação não se justifica e prova que a coleção foi mal planejada e realizada. Se a coleção é constituída dos maiores intérpretes da Bossa Nova, João Gilberto, o maior e o mais importante de todos, não poderia estar de fora. Da mesma forma o Tamba Trio, o Bossa Três, o Copa Sete, Sérgio Mendes e Zimbo Trio.
Além disto, Vinicius nunca foi intérprete de Bossa Nova, e outros o foram mínima e esporadicamente, como Maysa, uma cantora de canções e sambas-canções. E Simonal não foi um cantor que privilegiou ou cantou mais Bossa Nova do que sambas-canções, boleros e música norte-americana. Além disto, o nome de Newton Mendonça, grande intérprete da Bossa Nova, que não deixou gravações, mas as maiores criações do gênero, não é, ao menos, citado no texto dedicado a Tom Jobim e em nenhum dos outros textos da Coleção.
Por tudo isto a coleção é pobre e defeituosa.
Sei que você não é o profissional que estabeleceu os seus tortos e equivocados critérios. Entretanto, você e a sua empresa não podem se eximir da responsabilidade, pois, certamente bem intencionados, são os produtores do canhestro e infeliz empreendimento
Sei que você não é o profissional que estabeleceu os seus tortos e equivocados critérios. Entretanto, você e a sua empresa não podem se eximir da responsabilidade, pois, certamente bem intencionados, são os produtores do canhestro e infeliz empreendimento
Cordialmente,
Marcelo Câmara.
O ESCÂNDALO
Minhas amigas,
Meus amigos,
Marcelo Câmara.
O ESCÂNDALO
Minhas amigas,
Meus amigos,
Um escândalo! Verdadeiramente um escândalo. Benfazejo e venturoso, no melhor e mais positivo sentido que a exclamação possa ter. É como posso resumir para vocês a emoção deste trabalhador da Cultura Brasileira, ao ter nas mãos o fascículo da Coleção BRAVO! 50 ANOS DE BOSSA NOVA, Newton Mendonça - O personagem oculto, de André Ciasca, que acompanha a edição de outubro da revista Bravo!.
Numa iniciativa pioneira, corajosa, única na mídia brasileira, a revista Bravo! edita um bem construído e honesto perfil biográfico, jornalístico e crítico, do pianista de vanguarda e genial compositor carioca Newton Mendonça (1927-1960), primeiro e principal parceiro de Tom Jobim, com quem formou a mais importante dupla da Bossa Nova.
Honrado e orgulhoso, devo dizer que o trabalho do jornalista e produtor cultural André Ciasca teve como fontes principais: o livro de minha autoria, Caminhos cruzados - a vida e a música de Newton Mendonça (Mauad); o álbum Caminhos cruzados - Cris Dela nno canta Newton Mendonça (Ilha Verde), idealizado e produzido por mim; as minhas recentes pesquisas; e as entrevistas que a ele concedi. Newton Mendonça é o criador, com Tom Jobim, de Desafinado, Samba de uma nota só, Meditação, Discussão, Foi a noite, Só saudade, O domingo azul do mar etc, e de composições exclusivas como Você morreu p'ra mim, O tempo não desfaz, Verdadeiro amor, O mar apagou, Seu amor, você, Canção do azul, Nuvem, entre outras - qualificadas como obras-primas, hinos e matrizes da Bossa Nova.
Considero a edição do fascículo da revista Bravo! um fato extraordinário, grandioso, de grande significado para a Música Brasileira. Desde a morte de Newton, há quase quarenta e oito anos, somente a Mauad com a edição da biografia em 2001, os meus parcos talentos e recursos que produziram um CD em 2002 e um show em 2008, e, agora, a revista Bravo! - tiveram a iniciativa, a capacidade e a coragem de realizar projetos sobre a vida e a música do grande artista.
O trabalho de André Ciasca é uma resposta altiva e verdadeira à enxurrada de publicações, CDs, programas de rádio e tv, capengas, falsos e pasteurizados, comemorativos dos 50 anos da Bossa Nova, eventos que apenas repetem velhas mentiras, ficções e deformações de uma famigerada "história oficial da Bossa Nova", que predomina na mídia e numa bibliografia medíocre, plagiária e empulhadora. Parabenizo a Bravo!, saúdo e louvo a visão e a independência do chefe de redação da revista jornalista João Gabriel de Lima, quando enfrenta a mediocridade e a farsa generalizadas, construindo com seriedade e excelência.
Para mim, pesquisador quase solitário e um pouco heróico ao insistir em defender a memória e a arte de Newton Mendonça, após os aplausos, meus e dos leitores, só há uma palavra a ser lançada: BRAVO!
Marcelo Câmara
Marcelo Câmara