IGUALDADE SUSPEITA
Ontem, ou anteontem, no morro do Juramento, Rio de Janeiro, bandidos mataram uma agente policial com um tiro no peito. Ontem, ou hoje, os policiais militares mataram seis suspeitos, num confronto que, por acaso, se deu no mesmo conflituoso morro carioca.
Como assim, "suspeitos"?!? Os PMs investigaram os caras, seguiram pistas, rebuscaram denúncias? Mas, para as cuidadosas manchetes dos cadernos policiais, em matéria de favela todo mundo é suspeito até uma rajada em contrário.
Não, nada contra a ação dura e firme, sistemática e organizada contra a bandidagem dos morros cariocas, já que as dos palácios é imune. É que o diabo sai atirando pra matar ou morrer quando a polícia suspeita de favelados e, sem perguntar e sem mirar lá essas coisas faz justiça com as próprias armas.
Mas, o diabo veste Prada quando as forças públicas de segurança se defrontam com Black Blocs mascarados, violentos, predadores, baderneiros que afugentam os brasileiros das ruas, mas nem por isso chegam a ser suspeitos o suficiente para levarem um spray de pimenta na Máscara, ou um tiro de borracha nos fundilhos.
E assim, uma vez mais se aprende nessa versão carioca do Brasil da Silva que a justiça não é outra coisa do que senão a conveniência do mais forte. Não pensem, não suspeitem, nem de longe - e muito menos de perto - que isso é pregação de violência. É um chamamento à igualdade.
Todo mundo é inocente até prova em contrário, como diziam os mensaleiros antes de serem flagrados com a boca na botija. Tanto é que levaram quase nove anos para pegarem cadeia e nenhum deles levou sequer uma bala de menta na boca, ou um reles tirinho de borracha.