Se você acha que os governos brasileiros falam grego, vai ver que você está entendendo tudo. Agora, mais do que nunca, com o Palácio aos pés e nas mãos de uma mulher, não se surpreenda se, de repente, ela muito mais do que uma primeira-presidenta, se pareça com uma deusa; uma deusa tipo Zeus - o deus de todo os deuses.
Já deu para perceber que o Brasil tem na esplanada dos mistérios uma mulher atlética, que aprecia a vida, a liberdade, os animais até sociais. Ama a natureza e diz que se dedica à proteção do meio ambiente. Ela se faz respeitar, sabe viver só e sente-se bem assim. Calcula-se que não dá ponto sem nó, nem leva desaforo pra casa; pode ser vingativa se ultrapassarem o limite imposto por ela mesma no seus encontros oficiais. Eis aí a primeira deusa. Tem a cara de Artêmis, rosto com feitio de Lua, mas podem chamá-la de Diana.
Você já viu também que é um mulher extremamente profissional e prática, que busca realizar-se numa carreira onde possa mostrar sua sabedoria, nem que seja diante de um teleprompter na geradora de imagens da TV do Estado. Ali, mostra sempre equilíbrio, cultura e educação; não briga à toa, envolve-se em causas justas, às quais defende com argumentos irrefutáveis Isso lhe concede quase sempre o merecimento da vitória. O voto final é sempre seu. A essas alturas é uma Atenas que atende melhor pelo codinome Minerva.
Sim, ela tem poucos amigos - inclusive no PT e seus coalizados - e não se interessa por conversa fiada política ou intelectual. Seu dom é ouvir com o coração compassivo, permanecendo centrada no meio de qualquer perturbação que uma pessoa ou um partido amigo lhe traga, proporcionando um lugar caloroso ao lado de “sua lareira”. Quando se revela assim, é Héstia ou Véstia, tanto faz como tanto fez.
Embora o trabalho seja um aspecto secundário em sua vida, ela pode ser boa nisso e alcançar até certo êxito. É uma mulher ligada ao poder. Líder política, governante, regente. E, ao mesmo tempo, apegada à tradição, não abrindo mão uma vez lá que outra de um casamento convencional, com moralidade e companheirismo. Mesmo quando boa esposa é uma “imperatriz” em sua casa, sua vida. Tanto é que já fez isso algumas vezes. Contudo, se não for casada, se sentirá meio que fracassada, embora jamais dê o braço a torcer. Este é o seu jeito de ser Juno, mais conhecida como Hera.
Você já viu também que, de repente, ela é a mulher-mãe. Mãe do PAC, mãe dos brasileiros, mãe da mãe do seu neto. Em assim sendo é geradora não só da vida mas também de sentimentos, emoções, experiências. É a que protege, acolhe e alimenta; é a que se apresenta com reservas aparentemente inesgotáveis de energia. De tal forma que "apagão no Brasil, nunca mais". Nesse caso, nossa primeira-mulher vai ao patamar das deusas como Deméter, ou melhor, a bendita Ceres.
Pois não é que, não raro, ela se mostra uma mulher atraída pelo mundo espiritual, pelo que está oculto? É sincrética. Discreta, parece misteriosa e mística, reservada e inquietante. Vive dividida entre o mundo real e o desconhecido. Sua religiosidade tem todos os matizes. É católica, apostólica, brasileira, protestante, envangelical e até batuca por baixo que vai. Pode ser sombria ou ter pensamentos idem, lado adquirido por sua personalidade desde que disse ter voltado do inferno de uma tal Redentora. Tem inclinação, aptidão e até diploma para alcançar vários empregos, ao invés de uma profissão. Ela sempre tende para onde a família e os amigos estão. Não gosta muito quando tem um patrão a quem agradar. É assim que ela assume a figura de Perséfane.
Numa sétima pele, é mais reconhecida pela sua atratividade do que por sua aparência. Seu arquétipo cria um carisma pessoal, magnetismo bem moldado. Gosta de variedade e intensidade. Somente quando está totalmente ocupada criativamente é que age bem. É movida a stress. Assim, é provável ser encontrada - como se deu na campanha eleitoral - na arte, na música, na escrita, ou na dança. Faz o que gosta e o que dá leite e deleite. É assim que ela encarna Afrodite, quando não está descamisada é Vênus.
Dessa maneira, mesmo que o seu tempo de governo ainda seja muito jovem - um mês e meio até aqui - já se vê que não foi dessa vez que o Brasil ganhou um primeira-mulher-presidenta. Com a Dilma que aí está, o Brasil ganhou a deusa de todas as deusas. Dilma tem dentro de si Afrodite, Perséfane, Ceres, Hera, Héstia, Artêmis e Minerva.
E então é assim que o Palácio do Planalto está deixando de ser palácio para ser Panteão e a Esplanada deixando de ser dos ministérios para ser o Olimpo, morada das lendas gregas. Mas isso não é problema; é solução: de grego, aqui no Brasil, todo mundo sabe tudo.
Principalmente, você.
RODAPÉ - Nada faz mais sentido do que isso. A Grécia sobrevive até hoje da sua enorme imaginação. Não fosse inventar tantos deuses e deusas, já teria ido para as calendas gregas. Vive e sobrevive de mentiras que fabricaram uma das mais encantadoras histórias universais. Eis agora, o Brasil à grega.