Esta foi a primeira medalha de ouro conquistada pelo aquariano Clodoaldo Silva e pelo Brasil Paraolímpico, nos Jogos de Atenas , em 2004. Foi o início da era do Tubarão de Aquário, o Predador de Recordes.
NOVOS POSEYDONS
(Leia no rodapé do blog: "Brasil d'Eficência")
Do início de 2002 a meados de 2005 integrei a Assessoria de Imprensa do CPB - Comitê Paraolímpico Brasileiro. Ali eu tive lições magníficas de vida. Dentre tantas, aprendi a admirar a figura firme, decidida, sempre gentil e bem articulada de Clodoaldo Silva. Nesse período ele se transformou no predador de recordes, no tubarão paraolímpico que abocanhava todas as medalhas de ouro das provas da Classe S4. De sua melancólica participação nos Jogos de Pequim, em razão da mudança de categoria - lastimo profundamente que aqueles que antes o endeusavam, o tenham deixado à margem do mar da China, com o ar de quem nadou, nadou e morreu na praia.
Clodoaldo - que desde Atenas já tinha sinais de que mexeriam na sua classificação atlética - não se preparou durante os últimos quatro anos para ser um vencedor na Classe S5, uma seleção de nadadores com dificuldades motoras muito menores do que as dos seus adversários anteriores. Pela cabeça dos outros, pensou o tempo todo em continuar na S4 demolindo recordes, engolindo átimos de segundos, no seu cômodo e seguro lugar de dar o bote nas piscinas do mundo inteiro.
Seus assessores - à margem do CPB - se dedicaram a lhe dar respaldo de patrocínios, a preencher sua agenda de eventos, a transformá-lo num dirigente de instituições afins, num presidente de fundações e institutos não-governamentais; se empenharam com enorme afinco, a encaminhar a trajetória do atleta Clodoaldo para uma promissora carreira de dirigente paraolímpico. O nadador passou a ser também presidente de associações de classe.
Ao CPB cabe uma única, mas enorme parcela de culpa nesse episódio que, na véspera da abertura oficial da Paraolimpíada em Pequim, promoveu sua maior estrela à triste condição de mero coadjuvante no palco do maior espetáculo paradesportivo da Terra. Pesa sobre os ombros do CPB o pecado de ter deixado escapar de seu convívio e de sua orientação profissional e humana justamente aquele que, em 2004 em Atenas, se transformou no maior ídolo da história do Brasil Paraolímpico.
Lamento mais ainda: ter deparado com a figura de um deus em abandono; um deus sozinho; distanciado das justas e merecidas celebrações dos vencedores de hoje. A triste cena conduz à dúvida inevitável: - Quem vai cuidar da cabeça de Clodoaldo agora? Do corpo, aqueles que descuidaram de sua condição técnica por tanto tempo, certamente agora tentarão recuperar o tempo e o espaço que perderam. Se é que aprenderam a lição.
Se os Jogos na China foram realmente didáticos, o próprio CPB vai ter que fazer a lição de casa e reparar as falhas que lhe tocam nesse latifúndio particular de medalhas: trazer Clodoaldo Silva de volta para o seu aconchego. E mais do que isso: impedir que os novos deuses paraolímpicos de Pequim deixem o abrigo do seu teto e caiam no canto das sereias que habitam as profundezas desse mar de novos Poseydons que cometem assessorias e consultorias de um desalmado e destrutivo marketing esportivo.
Um herói da vida não pode ser vencido por semideuses de ocasião.
(Leia no rodapé do blog: "Brasil d'Eficência")
Do início de 2002 a meados de 2005 integrei a Assessoria de Imprensa do CPB - Comitê Paraolímpico Brasileiro. Ali eu tive lições magníficas de vida. Dentre tantas, aprendi a admirar a figura firme, decidida, sempre gentil e bem articulada de Clodoaldo Silva. Nesse período ele se transformou no predador de recordes, no tubarão paraolímpico que abocanhava todas as medalhas de ouro das provas da Classe S4. De sua melancólica participação nos Jogos de Pequim, em razão da mudança de categoria - lastimo profundamente que aqueles que antes o endeusavam, o tenham deixado à margem do mar da China, com o ar de quem nadou, nadou e morreu na praia.
Clodoaldo - que desde Atenas já tinha sinais de que mexeriam na sua classificação atlética - não se preparou durante os últimos quatro anos para ser um vencedor na Classe S5, uma seleção de nadadores com dificuldades motoras muito menores do que as dos seus adversários anteriores. Pela cabeça dos outros, pensou o tempo todo em continuar na S4 demolindo recordes, engolindo átimos de segundos, no seu cômodo e seguro lugar de dar o bote nas piscinas do mundo inteiro.
Seus assessores - à margem do CPB - se dedicaram a lhe dar respaldo de patrocínios, a preencher sua agenda de eventos, a transformá-lo num dirigente de instituições afins, num presidente de fundações e institutos não-governamentais; se empenharam com enorme afinco, a encaminhar a trajetória do atleta Clodoaldo para uma promissora carreira de dirigente paraolímpico. O nadador passou a ser também presidente de associações de classe.
Ao CPB cabe uma única, mas enorme parcela de culpa nesse episódio que, na véspera da abertura oficial da Paraolimpíada em Pequim, promoveu sua maior estrela à triste condição de mero coadjuvante no palco do maior espetáculo paradesportivo da Terra. Pesa sobre os ombros do CPB o pecado de ter deixado escapar de seu convívio e de sua orientação profissional e humana justamente aquele que, em 2004 em Atenas, se transformou no maior ídolo da história do Brasil Paraolímpico.
Lamento mais ainda: ter deparado com a figura de um deus em abandono; um deus sozinho; distanciado das justas e merecidas celebrações dos vencedores de hoje. A triste cena conduz à dúvida inevitável: - Quem vai cuidar da cabeça de Clodoaldo agora? Do corpo, aqueles que descuidaram de sua condição técnica por tanto tempo, certamente agora tentarão recuperar o tempo e o espaço que perderam. Se é que aprenderam a lição.
Se os Jogos na China foram realmente didáticos, o próprio CPB vai ter que fazer a lição de casa e reparar as falhas que lhe tocam nesse latifúndio particular de medalhas: trazer Clodoaldo Silva de volta para o seu aconchego. E mais do que isso: impedir que os novos deuses paraolímpicos de Pequim deixem o abrigo do seu teto e caiam no canto das sereias que habitam as profundezas desse mar de novos Poseydons que cometem assessorias e consultorias de um desalmado e destrutivo marketing esportivo.
Um herói da vida não pode ser vencido por semideuses de ocasião.