PLEIN SOLEIL - OU: A LAVA JATO
DEMORA MAS NÃO FALHA
É domingo,
dez da manhã, tempo de sobra para ver o Vasco iniciar sua caminhada pelo
vice-campeonato da Segunda Divisão no ano que vem. E tempo para pensar que o
futebol no Brasil tem a cara da política.
Lá na CBF, uma espécie de Presidência
da República do esporte, a arte imita a vida da politicalha: sai um
quadrilheiro e entra outro quadrilheiro. E de pandilha em pandilha a gente vai
levando, mesmo com toda chama, mesmo com todo o Brahma, com toda lama, a gente
vai levando...
E assim é
que, no meio dessa barafunda nauseabunda, a gente fica furibunda, mas vai levando, a
gente vai levando, na cara e na coragem de ir levando bem ali, onde as costas perdem o seu digno nome. Mas é assim levando que a gente acaba descobrindo que o alívio tem um nome: delator
premiado.
Não pense que os delatores sejam meus ídolos; não pensem que eu lhes
deva respeito e admiração. Longe disso, eu apenas agradeço o fato de que contra esse crime
organizado que é o Estado, a saída é a delação premiada.
Seria impossível, ir
estancando ainda que cansativa e paulatinamente essa sangria nacional praticada por
criminosos de colarinho-branco, tráfico de influência, corrupção governamental
ativa e passiva, se a gente não contasse com esses criminosos como
informantes.
Uma vez com as provas irrefutáveis nas mãos, a prisão acontece para figuraças de todos os tamanhos e feitios e não só para o rebotalho social que serve de mula para levar nas costas o que, comme d'habitude, acaba no bolso dos maiorais.
Então é isso que eu quero dizer, antes que me plante diante da TV, vendo o meu Vasco traçar seu próprio destino: eu não respeito delatores. Não, porque sejam delatores, dedoduros, alcaguetes – como Dilma Vana disse outro dia; eu não os respeito, fundamentalmente, porque são criminosos.
E tem mais, nenhum de nós que pagamos a conta dessa mixórdia brasileira, tem que respeitá-los. Basta apenas ouvir o que eles têm a dizer e ir fundo à cata das provas concretas do que eles disseram. É isso que as forças aliadas da Lava Jato estão fazendo. Isso demora um pouco.
É por causa desse zelo necessário, demorado e extremamente profissional que o chefe de todos os chefes dessa pandilha de sevandijas que há 13 anos tomou de assalto o país, ainda está por aí gozando o pleno sol da liberdade.