O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

6 de dez. de 2015

PLEIN SOLEIL - OU: A LAVA JATO
DEMORA MAS NÃO FALHA




É domingo, dez da manhã, tempo de sobra para ver o Vasco iniciar sua caminhada pelo vice-campeonato da Segunda Divisão no ano que vem. E tempo para pensar que o futebol no Brasil tem a cara da política. 

Lá na CBF, uma espécie de Presidência da República do esporte, a arte imita a vida da politicalha: sai um quadrilheiro e entra outro quadrilheiro. E de pandilha em pandilha a gente vai levando, mesmo com toda chama, mesmo com todo o Brahma, com toda lama, a gente vai levando...

E assim é que, no meio dessa barafunda nauseabunda, a gente fica furibunda, mas vai levando, a gente vai levando, na cara e na coragem de ir levando bem ali, onde as costas perdem o seu digno nome. Mas é assim levando que a gente acaba descobrindo que o alívio tem um nome: delator premiado. 

Não pense que os delatores sejam meus ídolos; não pensem que eu lhes deva respeito e admiração. Longe disso, eu apenas agradeço o fato de que contra esse crime organizado que é o Estado, a saída é a delação premiada. 

Seria impossível, ir estancando ainda que cansativa e paulatinamente essa sangria nacional praticada por criminosos de colarinho-branco, tráfico de influência, corrupção governamental ativa e passiva, se a gente não contasse com esses criminosos como informantes.

O que a Lava Jato tem de bom é que toma o depoimento dos delatores apenas como ponto de partida para investigar a fundo a veracidade de cada informante, até encontrar provas indesmentíveis, materiais ou testemunhais que cheguem a sua consolidação.

Uma vez com as provas irrefutáveis nas mãos, a prisão acontece para figuraças de todos os tamanhos e feitios e não só para o rebotalho social que serve de mula para levar nas costas o que, comme d'habitude, acaba no bolso dos maiorais.

Então é isso que eu quero dizer, antes que me plante diante da TV, vendo o meu Vasco traçar seu próprio destino: eu não respeito delatores. Não, porque sejam delatores, dedoduros, alcaguetes – como Dilma Vana disse outro dia; eu não os respeito, fundamentalmente, porque são criminosos.  

E tem mais, nenhum de nós que pagamos a conta dessa mixórdia brasileira, tem que respei­tá-los. Basta apenas ouvir o que eles têm a dizer e ir fundo à cata das provas concretas do que eles disseram. É isso que as forças aliadas da Lava Jato estão fazendo. Isso demora um pouco.

É por causa desse zelo necessário, demorado e extremamente profissional que o chefe de todos os chefes dessa pandilha de sevandijas que há 13 anos tomou de assalto o país, ainda está por aí gozando o pleno sol da liberdade.