O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

24 de jun. de 2009

DE PERNAS PRO AR

Numa madorrenta terça-feira de inverno brasileiro, sem mais o que fazer, Lula meteu o pau nos empresários que "não repassaram a desoneração para os preços ao consumidor", desancou a todos nós alertando que é preciso cautela com os escândalos e defendeu o aliado Zé Sarney: “Eu acho que o problema do Senado, o Senado resolve. E essa é a disposição do Sarney na conversa que eu tive com ele. Não vamos fazer disto uma coisa nacional porque temos coisas mais importantes a discutir no Brasil. Eu acho que o povo brasileiro já viu muitos escândalos divulgados em verso e prosa que depois não dão em absolutamente nada”.Tudo se resolve...

Claro que se resolve. Fica tudo como está para ver como é que fica.

Em um arremedo de entrevista à Rádio Capital, em São Paulo, Lula criticou a cobertura da imprensa à crise no Senado, metendo o dedo no nosso nariz dizendo que o "denuncismo" pode levar a sociedade "a desacreditar em tudo".

Ele gosta, já se vê, que a sociedade acredite em tudo. Desde que creia só naquilo que ele gosta e quer que se acredite.

Lula, mais uma vez abusou: “Ora, se houve alguém no Senado que cometeu um erro de contratar uma pessoa indevidamente, essa pessoa é dispensada, pede-se desculpas à sociedade, muda as normas de contratação e está resolvido. O que não pode é estabelecer processo de paralisia da atuação do legislativo por conta de uma coisa que acontece há 40, 50 anos”.

Então, tá. Desculpe-nos por ter um dia votado em você!

Lula ao defender Sarney, alegou que seu passado lhe garante "muitas coisas". E se desmanchou todo: “Minha solidariedade é porque o Sarney já foi presidente, ele tem responsabilidade, tem passado que lhe garante muitas coisas. O Sarney está fazendo uma investigação e se for provado que houve erro, pune-se quem errou e a vida continua. O que não pode é paralisar o País”.

Ei, Médici, Geisel, Colllor, Itamar, FHC também foram presidentes. Lula deve achar que seu passado também "lhes garante muitas coisas". Só não diz. Em todo caso, não custa nada perguntar: será que Lula viu aquele filme "O Passado me condena"?!?

Com relação à situação do Senado, Lula se mostrou de corpo e alma: “O problema é que de vez em quando a gente esquece de discutir as coisas mais importantes do país e fica discutindo coisas secundarias. É preciso que a gente faça reforma política para reforçar os partidos e sonhar com uma política um pouco mais nobre”.

Quer dizer que o uso e abuso da coisa pública; a privatização do Senado, do Palácio do Planalto, são coisas secundárias?!? Temos mesmo que sonhar com política bem mais nobre do que esta desse triste tempo.

Lula lembrou que, no passado, votava-se em "Cacareco". Foi o que encontrou para defender que o País não pode ficar concentrado nas denúncias:“O Congresso Nacional funcionando é uma garantia da democracia. Por isso, defendo as instituições. As críticas são importantes porque obrigam as pessoas a fazer correções, mas não se pode banalizar a ponto de levar a sociedade a desacreditar em tudo. Uma sociedade que já votou como no passado, em Cacareco, votou como se fosse um gesto de estupidez, quem perde com isso é o País”.

O Cacareco de hoje é fruto do mar. A banalização não é da crítica; a banalização é do escândalo.

“Quando se começa a fazer uma inversão de valores, coloca em primeiro lugar o que é em segundo lugar, e em segundo o que deve estar em primeiro, passa para a sociedade a noção que tudo está errado, quando na verdade tem coisas erradas, mas muita coisa certa que não aparece com a plenitude que deveria aparecer. Na medida em que começa a fazer muitas criticas ao Congresso e aos partidos, o que vem depois disso, acha que é melhor? Veja o que aconteceu na Itália com as ligas, piorou a política na Itália. Temos que acreditar na sabedoria do povo. Gente, daqui a um ano e meio tem eleição para deputado, governador, senador”.

Lula deixou a nítida impressão de que estava de cabeça para baixo concedendo essa entrevista à Rádio Capital.