QUANDO O PT QUER É IMPEACHMENT, EM
COMPENSAÇÃO QUANDO SOFRE É GOLPE
Faz 16 anos que Lula nos calcanhares de FHC era o Aécio Neves de hoje: um tucano que não sabe se deve ou não entrar nessa canoa do impeachment de Dilma.
Corria o ano de 1999 e Lula já piscava o olho para empresários, empreiteiros, banqueiros e azelites, posto que queria porque queria subir a rampa, em 2002. Então, tirou o corpo fora do tiroteio pra cima de Fernando Henrique.
Em janeiro de 99, Genro, o Tarso de Lula, foi o primeiro a pedir o afastamento de FHC. Ele queria que o presidente tucano confessasse a sua "incapacidade de dirigir o país" e encaminhasse ao Congresso uma emenda constitucional convocando novas eleições. A baboseira não deu em nada. E nem Tarso Genro teve que se vestir de prenda para voltar a Porto Alegre.
Fins de abril daquele mesmo ano, o PT que hoje acusa o impeachment de "golpe", pediu o impedimento de FHC por causa do Proer - programa que desafogava os bancos e também por causa das privatizações, hoje chamadas de terceirizações pelo governo petista. Michel Temer, era o Eduardo Cunha daquela época - presidia a Câmara. Temer rejeitou o pedido.
Aí, no dia 5 de maio, surge das cinzas, qual Fênix politizado, o gaúcho Alceu Colares - invenção de Brizola - com um pedido de derrubada do presidente; logo depois foi feito outro pedido de impeachment pelo conhecido Papagaio do Araguaia, Zé Genoíno, em nome do harmonioso quarteto PT, PDT, PCdoB e PSB.
Lula, presidente do PT, ficou sempre sentado nas patinhas de trás. Ele e Zé Dirceu, então seu braço direito no Diretório Nacional do partido, até que meio que discordavam. Dirceu era naquele tempo, tipo assim eu, você e qualquer um que hoje pense que tirar Dilma para colocar Michel Temer será trocar alhos por bugalhos. Zé Dirceu, esperto e ranheta, achava que com a saída de FHC entraria o vice, Marco Maciel - mais Arena que Zé Sarney.
Lula achou até bom, pois acabou se convencendo de que não adiantaria nada tirar FHC de cena. O melhor a fazer naquele período era mesmo tratar de eleger o maior número possível de prefeitos em 2000 e assim ganhar a corrida para a Presidência, em 2002.
Os pedidos de impeachment empacaram. FHC continuou de Príncipe dos Sociólogos da tucanagem, fez um péssimo segundo governo e deu no que deu: Lula subiu a rampa em 2002. De lá pra cá foi um festival de escândalos nunca antes visto na história desse país. Quase duzentos, se quiserem saber. Mas, isso não quer dizer nada. A banalização do escândalo virou mania de político brasileiro. Hoje é pré-requisito curricular.
O que se precisa dizer agora é que, como Lula nunca apareceu pedindo o impeachment de FHC, entende-se perfeitamente porque, em 2006, quando estourou o Mensalão, Fernando Henrique Cardoso não deixou prosperar o impeachment contra Lula. Em um país em que a lei é usada como refúgio e recurso para a burla da lei, só a lei da compensação resolve.
Hoje, no pleno e demorado exercício do poder, o PT chama de "golpe" o pedido de impeachment que não tem a assinatura de nenhuma sigla partidária. E o indefectível FHC, longe de fazer pressão mantém acesa a velha chama da gratidão e transforma Aécio Neves naquele mesmo Lula que ficou na moita quando o PT queria derrubar Fernando Henrique.
Então é assim que caminha a humanidade nesse Brasil da Silva. Tudo na nossa democracia é na base da compensação: quando um brasileiro tem diante de sua janela uma árvore que o impede de ver o horizonte, ele pensa que, em compensação, seu carro fica sempre na sombra.