Para um governo que coleciona escândalos; que não dá a mínima para a corrupção nem para roubalheira; que faz saber, mas não sabe fazer, uma Copa do Mundo é tudo que mais precisa para consolidar sua imagem diante de um país que vive de bolsas e de propaganda enganosa.
É fácil governar. Mais que governar é fácil manipular uma nação que se conhece e que se enxerga na TV. Que se vê na TV. O brasileiro vê o Brasil na TV. Tem promessa na TV. Vive de esperança na TV. Desfruta democracia na TV. Vota pela TV. Vê a Copa na TV. E assim o povo brasileiro é cornudo, sem medo de ser feliz.
Com um povo assim, chifrudo, escândalo serve mais como exemplo de virtude do que como defeito a ser varrido do mapa do Brasil.
Para o brasileiro guampudo, aquele que sabe roubar uma pátria inteira é digno e venerável, eis que passa para o povo o gosto de apropriação do que é dos outros enquanto a coisa pública vai para a privada. É que, para o brasileiro galheteiro, o melhor guardião do patrimônio público pode ser o mais esperto, o mais hábil ladrão. E tem sido assim.
Para o brasileiro que toma bola nas costas, uma Copa como essa é o melhor respaldo para continuar tomando gol a torto e a direito, porque os donos do poder fazem saber, mas não sabem fazer; para esse brasileiro o inacabado é tido como realizado. E o promotor da esperança nem acaba junto; goza sozinho com a sua cara.
Para esse governo que desgoverna como quem governa em excesso, usar a esperança como aríete para introduzir-se na ingenuidade de quem se deixa trair, é apenas um jeito oficial de fazer sonhar aqueles que estão adormecidos de olhos abertos.
Esse governo sabe, como só ele, que o brasileiro corno se deixa enganar com consentido e incomensurável prazer pela publicidade, o império das falsas necessidades. E aí relaxa e goza.
Chega ao múltiplo orgasmo só de ouvir a palavra esperança. Chega ao supremo prazer se a esperança oculta vem acompanhada de um sujeito explícito como o medo, ou o ódio.
O governo não tem esperança; ele fabrica esperança. E o povo espera sentado, enquanto a nação leva chifre deitada em berço esplêndido.
Ei, parceiro, saia já da frente dessa TV! Tem gente grossa enfiando esperança em você.