Foto: José Cruz / Ag.Senado
José Sarney - o ungido pelo Palácio - chega folgado à presidência do Senado com 49 votos, contra 32 do petista purgatorizado Tião Viana que, antes da votação plenária, contabilizava 43 votos para si próprio. Já sabe agora que foi traído por pelo menos 11 falsos aliados. Sarney só aceitou concorrer porque há mais de duas semanas saiu do gabinete de Lula certo da vitória. Na sua versão de reforma política, ele defende o Parlamentarismo. E vai mais além: quer defenestrar o sistema de reeleição para presidente da República, mas propõe a ampliação do mandato presidencial. Bem como vem acontecendo invariavelmente no Brasil: ele repicou e FHC fez a mesma bobagem. Resumo da ópera: Lula agora nem precisa mais se esforçar para que Dilma aprenda a ser simpática até 2010. Pelo visto, aquela cirurgia plástica foi dinheiro posto fora.
ENTRELINHAS - A eleição de Sarney pode transformar daqui a pouco o deputado Michel Temer num verdadeiro Greenhargh! Ele é do PMDB, assim como o novo presidente do Senado. A Câmara - commme d'habitude - dança conforme a música tocada de ouvido em ouvido por seu amo e senhor que não quer, de jeito nenhum, ver o PMDB comandando a massa a balançando a pança no Congresso. Assim é que, se a votação for para o segundo turno, Temer vai bailar na curva. Duas regências a um só tempo é um exagero de harmonia. O Palácio perderia o ritmo, o compasso e a voz no Congresso. Seria muita desafinação de uma vez só.
O DISCURSO DA VITÓRIA
"Assumo a presidência do Senado pela terceira vez, com o senso da maior responsabilidade e o desafio que constitui essa eleição para a minha vida. Certamente, nenhum dos presentes duvidam do meu bem estar social, pessoal, estaria fora das atribuições que vou enfrentar. Mas a paixão da vida pública é maior que a paixão da própria vida.
E é justamente no exercício desta paixão que aqui estou. Só dividi com a literatura, escrevendo mais de sessenta títulos. Foi com a única coisa que eu dividi minha vida, toda ela mais foi dedicada ao serviço público, e a maior parte ao Congresso Nacional. Este coração da democracia, instituição extraordinária, o poder de questionar os governos, costumes, e o próprio Congresso.
Cabe agradecer ao senador Garibaldi Alves, pelos serviços prestados ao Senado. Tenho deveres de amizade, políticos, mas não será com o Senado que resgatará qualquer dever. Acima de tudo isso, está a independência, autonomia e grandes interesses da nossa Casa. Portanto, o Senado tenha certeza que reafirmaremos nossa independência e exigiremos cada vez mais respeito à nossa instituição. E respeitarei nossos colegas. Não fazemos nada solitariamente.
Quero agradecer a todos os senadores e senadoras que votaram em meu nome. Mas quero dizer que o presidente do Senado é o presidente da Casa, de todos os senadores. E quero homenagear a todos que votaram em Tião Viana. Seria, sem dúvida, uma falha de minha parte se não terminasse essa fala agradecendo a Deus por esse destino que me reservou".