SÓ A CONSCIÊNCIA COLETIVA
É MAIS FORTE QUE O PODER
E pode meter o futebol no meio; nem precisa meter a mãe.
Parecia bobagem a gente misturar política com futebol. Depois que Lula passou a usar o esporte para explicar como se vira um come-bola, a besteira ficou com jeito de coisa séria. Só o jeito. O jeito Lula de ser. Pé-frio no esporte; mão-quente e ligeira na política.
Verdade é que o brasileiro está farto de indignação pelo que lhe tem sido servido nesses 12 últimos anos pelo poder dominante em termos de corrupção, de desigualdades sociais, de péssimos serviços essenciais como saúde, educação, transporte, mobilidade urbana, segurança pública e justiça.
Farto e atônito. Foi retirado das ruas pela ação dos black blocs encomendados pelos senhores dos anéis e agora que começa a reagir por reagir, por estar cansado de apanhar tapas de gatos, já se vê atrapalhado por paus-mandados que pedem a volta dos militares ao poder.
Essa malévola estratégia de usar os white powers deixa a impressão de que a voz rouca das ruas é o eco retumbante de uma vingativa Direita, de perigosos reacionários que querem dar o troco à esquerda mais do que festiva, uma esquerda animada e gananciosa.
E estamos todos atônitos, uma vez mais. Já estamos achando difícil que nessa democracia criada para substituir a ditadura, o povo possa querer que todo o poder emane do povo e que em seu nome seja exercido.
Pode ser difícil, mas não é impossível. Mais do que em nome do povo o atual poder deva ser exercido, ele agora ao povo deve ser devolvido. E isso só será possível se o poder estiver ressurgindo mesmo do seio do povo, do meio do povo...
E o seio, ou o meio do povo, nada mais é do que senão o consciente coletivo. A consciência da massa que percebe a manobra e não se deixa manobrar. A consciência do que está na alma, no espírito de um povo, de uma nação.
A esta altura você há de perguntar, aonde foi parar a tal bobagem que mistura futebol com política? Pois, veja só, foi parar longe dos farsantes que usam o esporte como eufemismo. Foi surgir, neste domingo, nas arquibancadas do novo estádio do Palmeiras - aquele que engoliu o Parque Antárctica e ressurgiu como o portentoso Allianz Parque.
Foi ali que, por 90 intermináveis minutos, os jogadores fizeram tudo e deram tudo do pouco que sabiam e do mais que podiam dentro de campo diante de um Atlético do Paraná que representava o fantasma do rebaixamento.
O jogo terminou empatado por reconhecida incompetência do Palmeiras. Um time que nas últimas seis partidas, de 18 pontos possíveis, marcou apenas um. Justamente o desse domingo. Ponto bastante para garantir o Verdão do velho Palestra Itália na divisão de honra do futebol brasileiro.
A reação de sonho e realidade da nação palmeirense explodiu silenciosa e tonitruante a um só tempo na moderníssima arena Allianz Parque.
Foi a mais pura e espontânea, reflexa e reflexiva, alegre e triste, comedida e imperativa manifestação de consciência coletiva que já se viu nesses últimos tempos no Brasil Dilma da Silva.
A massa palmeirense não aplaudiu e nem apupou; reagiu como sentia e como devia. Do jeito que o time do seu clube, da sua paixão, fez por merecer.
Não houve combinação. Ninguém leu antes a cartilha do torcedor para tomar a atitude que tomou. Não havia gabarito para garantir o recado que aqueles milhares de fanáticos torcedores saudáveis aos senhores dos anéis, aos cartolas, aos que se apropriaram dos destinos do seu Palmeiras.
No final do jogo, o fim da agonia, o fim do desencanto surgiu do consciente coletivo. Da certeza do certo e do errado; do saber o que há para fazer. A classificação sem aplauso, porque o medíocre e enganador, não merece palmas. Porque o inepto e vergonhoso, ainda que dissimulado, não merece mais do que a reação de desprezo que sinaliza ação, atitude, posição.
Os milhares de torcedores palmeirenses não deram aos atletas que atuaram em nome dos cartolas que colocaram o seu clube na vexatória realidade que viveu a temporada inteira, nem sequer o desprazer da vaia, porque a vaia, já se sabe, é sempre o aplauso de quem não gosta. Os palmeirenses gostam do Palmeiras. Não gostam de quem não gosta do seu objeto de paixão.
Aquele momento de compreensão, de discernimento coletivo, de plena consciência, de energia calma, serena, real, mostrou que quando cada um mete a mão no próprio peito com a certeza do que sente na pele e no coração, se revela exatamente como o milagre da criação o fez: forte o bastante para vingar e crescer e ser mais forte que o poder que tenha perdido suas raízes.
E pode meter o futebol no meio. Nem precisa ofender a mãe... Nesse Brasil que você ama, não há porque temer os black blocs, ou os que hoje formam o bloco dos white powers. É que você e mais um brasileiro consciente assim, juntos, formam uma multidão.