Sou desses caras mais experientes da vida, meio que metido a moderno.
Encaro, por supuesto, com enorme naturalidade, uma que outra tarefa
daquelas chamadas lidas de casa.
Uma vassourada daqui;
uma vez lá que outra arriscando uma torçãozinha nas costas ao arrumar a
cama; notórias e até espalhafatosas incursões à cozinha, para fazer uma
picanha mergulhada em sal grosso enrodilhada em papel laminado... E
outras coisas que me deixam em dia com a modernidade caseira, tipo
curtir venturas que viram verdadeiras pequenas aventuras.
Dentre
todas essas coisas de domínio público das donas de casa, uma para mim
tem se tornado missão impossível.: não consigo fazer pão torrado!
Tudo
manobra contra mim. O fogão, a assadeira, o forno! Esse bandido, o
forno! Não adianta programar o "timer", parece até que ele sabe que eu
tenho há mil anos um zumbido no ouvido que confunde sirenezinhas de
fogão com o assolbio do vizinho.
O meu pão torra; quando
eu vejo, já virou cheiro de rancho. A casa fica infestada. Pão torrado
não é tarefa pra qualquer um. Ele me faz um qualquer um.
Acho
que hoje, pela milésima vez, esse forno me avisou: - Pare com isso.
Ponha uma olaria, fabrique tijolos; monte uma usina de carvão! Pohaaa!
Deixe de ser burro, vá na padria da esquina. O pão torrado de lá ´pe um
barato. E sai muito mais barato.
Se esse forno for
isso mesmo que eu estou pensando dele, vou até seguir seu conselho. E
ele vai se livrar de um belo pontapé nos fundilhos. Bem mais forte até
do que os outros chutes que eu lhe dei e ele nunca reagiu. E que, cá pra nós, nunca adiantaram nada.
Mas
hoje é o dia da minha vingança. Bradei o grito da independência: deu
pra ti, baixo astral! Pão torrado, tchau! A padaria aqui do condomínio
tem serviço tipo assim delivery. E pra mim, um cara experiente na vida,
meio metido a moderno, nada mais na moda do que pão torrado em domicílio. Hoje, sim, vou torrar o saco dessa Vida de forno & fogão.