A história do cárcere de Arruda não está sendo fácil. Agora foi transferido da depenada "sala da diretoria" que já não tinha nada, para uma bem menor que não tem coisa nenhuma. Nem pelo menos uma privada.
O zelo da Polícia Federal deixa a nítida impressão de que segue à risca o velho preceito, cujos direitos autorais pertencem a Arthur Bernardes: "aos amigos, a lei; aos inimigos, o rigor da lei", quando trata de dar cuidados a Beto Arruda, o Venerando do Panetone.
Por um princípio de justiça - quié isso, companheiro?!? - nem ele, nem mesmo os dirceus da vida merecem tanto, nem tão pouco. Mas, faz tempo que Arruda não saboreia um panetone. Por isso, tudo bem, quem não come não tem tempo ou apetite pra essas coisas.
Cheios de razão, os seguranças que antes ficavam com ele no quarto, agora se quarteiam do lado de fora. Que dura expectativa essa, de ter que estar atento às convulsões intestinas! No fundo, no fundo, Arruda não tem do que se queixar: aquele quesito do WC que lá nos confins do Rio Grande - a pátria pequena que eu tenho no Sul - se chama de patente, é o de somenos importância.
Arruda, a esta altura ou fundura, já aprendeu que uma reles latrina, mais que uma privada, "é uma verdade patente -em vez da gente borrar nela; ela é que borra na gente". E Arruda, em liberdade, na maior clareza fez tudo que tinha que fazer na cabeça da gente. Esta é uma verdade patente.
MEMÓRIA DO CÁRCERE,
ou PORTA DE LATRINA.
Hoje, numa sala de, no máximo, dez metros quadrados, na maior humildade, Arruda tem chulas relembranças escatológicas dos versos que aprendeu e desprezou na infância:
"Neste recanto solene, onde toda verdade se paga, / Há uma verdade perene: todo covarde faz força e todo valente se caga".