O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

20 de abr. de 2016

MARCELA, MEUS AMIGOS VELHOS
JÁ CHEGARAM NA MINHA IDADE

Foi só a revista Veja fazer uma entrevista com a esposa do Michel Temer, para ela bombar nas redes sociais. A chamada da reportagem foi o gatilho que detonou a virilização: "Marcela Temer: bela, recatada e do lar". 

E tem também o sutiã da entrevista: "A quase primeira-dama, 43 anos mais jovem que o marido, aparece pouco, gosta de vestidos na altura dos joelhos e sonha em ter mais um filho com o vice". 

O brasileiro é que é espevitado e alucinado por gossips. Não faz mal que o cara seja bolsa-familiar, habitante de uma unidade do Sua Casa Sua Vida, ou gente rica, deputado, senador, ele é tão ligado nas futilidades do soçaite, na vidinha mais ou menos das zelites que, não tem mesmo como errar: em sociedade, tudo se sabe. 

Sobre as primeiras questões levantadas no título da matéria não resta a menor dúvida: Marcela é bela; Marcela é recatada. O que pegou mesmo foi aquela coisa "do lar". Tem gente dizendo que foi maldadezinha; que dolar é na Suíça. 

Já no que toca à sub-chamada, as questões iniciais são tidas e havidas pelos leitores como amenas e verdadeiras: Marcela é quase primeira-dama; Marcela é 43 anos mais jovem que o marido; Marcela aparece pouco; Marcela gosta de vestidos na altura dos joelhos... 

A última revelação é que parece mais instigante, como acaba de me telefonar um amigo da mesma idade de Michel Temer. 

Ele acha que fazer um filho assim, a essas alturas da vida até nem é nada demais para quem tem tempo. "Para quem tem tempo", me disse ele. 

E controlando seus instintos mais primitivos, me alertou com um tom de comentarista político: "Temer é um dos caras mais ocupados dessa República. Temer não tem tempo pra fazer um filho nesse reboliço todo em que anda metido". 

Ele não me deu nem tempo de falar qualquer coisa. Gritou no telefone, como se o mundo inteiro pudesse ouvir: "Ei, Marcela, eu tenho tempo!"

Que horror. O que é esse meu país. Vejam só o que a imprensa vem fazendo com essa Pátria Educadora. E cá estou eu repetindo o que me disseram há muitos anos, num daqueles cursilhos de cristandade: "tempo é questão de preferência".

Mas, o pior, minha gente é que eu já percebi que todos os meus amigos mais velhos já chegaram na minha idade. (Benção, Millôr Fernandes).