O medo

TENHA MEDO DO QUE O GOVERNO PODE FAZER COM VOCÊ. NO BRASIL GOVERNAR É SATISFAZER NECESSIDADES FISIOLÓGICAS.

24 de nov. de 2014

BAR BRASIL DA SILVA,
O AQUÁRIO NACIONAL

Desde que virou Brasil da Silva o país se comporta como um grande bar. Um enorme boteco. Aquele bar, boteco, café da esquina em que todo mundo sabe quem come a mulher de quem; quem deve pra quem; e onde todo mundo resolve os problemas do mundo e nenhum problema de todo mundo. 

O Brasil da Silva é uma grande Esquina do Aquário. Quem é de Pelotas - a minha pátria pequena que deixei lá no Sul -  sabe do que estou falando. Sabe disso também todo aquele que teve o azar de ler um dos três mil exemplares do meu livro Esquina do Aquário, editado e esgotado em 1980. 

É o café da gabolice, da vida maravilha, da invencionice, das verdades e meias-verdades. É divertido, mas não é levado a sério. Bem tipo assim Brasil da Silva.

Neste final de domingo, o melhor amigo de um homem resolveu ser amigo mesmo do seu melhor amigo e, dividindo um cafezinho com ele numa mesa junto à vitrine que dá para a calçada da fama, foi dizendo com um aperto no coração:

- Luiz, vou te contar uma coisa triste...
- Conte, conte logo Dirceu.
- A Rosélia  tá te traindo. 
- Verdade?!?...
- Verdade, Lulu.

Luiz, engoliu em seco. Seu rosto ficou petrificado com um olhar repentinamente perdido. O Luiz, mais Lulu do que nunca antes na história desse país, levantou-se, deu um abraço demorado e agradecido no seu melhor amigo e se retirou cabisbaixo, rumo a lugar incerto e não sabido, talvez até tenha tomado o caminho direto para o lar, doce lar.

Dirceu, o melhor amigo do homem, ficou na mesa. Terminou demoradamente o café. Estava aliviado. Tinha dito a verdade ao Zé. A Rosélia o traía mesmo. Dirceu só não disse para o Zé que era ele, o seu melhor amigo, quem andava comendo a Rosinha. 

Eita companheiro bom e batuta.

Pois, no Brasil da Silva é bem assim. O governo e seus circunstantes às vezes contam a verdade. Mas não a verdade verdadeira. Como não é toda a verdade, fica sendo meia-verdade. Verdade pouca, mas verdade. 

Agora mesmo no escândalo do Petrolão, todo corrupto que pegou dinheiro grosso do doleiro republicano Beto Youssef, ou dos tubos abertos por Paulinho Costa, diz que repassou a grana para os cofres do seu partido. Até pode ser verdade. Mas é meia verdade. Não é a verdade inteira, a verdade verdadeira. Verdade é que tem muita gente boa com muita grana boa no bolso.

E mandar abrir agora o sigilo de contas bancárias e fiscais também não é toda a verdade. É verdade, pode ser verdade. Mas não é a verdade verdadeira. 

O finório não diz que recebeu propinaços em dinheiro vivo, tão vivo que nem passa na frente de qualquer estabelecimento bancário. O malandro não diz também que ganhos por fora não entram e nem aparecem nas declarações de renda. 

Mas é verdade, ele abriu seus sigilos... Nem tanto, porque sobre o sigilo do uso e abuso do imprescindível telefone ele até agora não disse nada. É verdade; meia verdade. Não é a verdade verdadeira. Bem Brasil da Silva.