A Humildade de apoiar os outros...

Só de vez em quando

Nem mesmo um animal político fabricado nas usinas do ilusionismo escapa de ser vítima de seus próprios discursos e enganações. Sempre que fala, de improviso ou por escrito, por mais que dissimule, o orador se revela no contexto ou nas entrelinhas.

Lula ontem no Ceará: "Tem horas que temos que ter a humildade de apoiar os outros". Lapidar, meus caros; lapidar, como nunca antes na história desse país.

A frase de efeito, como de costume, foi rugida com a força de uma patada durante um seminário - modalidade preferida do Deus de Rosemary - lá na planície do Ceará. E tinha, desta feita, dois alvos certos e pra lá de sabidos: a primeira tapona foi no PT do Rio de Janeiro que teima em manter a candidatura do outrora imperador das carteirinhas da UNE hoje senador Lindberg Farias, em nome da aliança nacional com o PMDB; o segundo pataço foi na direção do PSB que já dá sinais de rompimento com Dilma, a Rainha das Selvas, uma espécie de Nyoka dos quadrinhos brasileiros, para lançar Eduardo Campos à presidência no ano que vem.

Isso, para quem não consegue acreditar no rei dos animais políticos que infestam a fauna e a flora do cenário politiqueiro nacional, revela o sujeito oculto do parlapatão de sempre:"sou humilde só de vez em quando e sempre que me convém" - não disse o Lula que saiu de trás da moita.

E assim às escâncaras, nu e cru no meio de um domestiocado safári numa clareira tropical, não conseguiu se conter e rugiu mais uma humilde... bravata : "O PT pode até ganhar a eleição sozinho, mas precisa de aliados para governar".

Mas desde quando, meu rei?!? Desde quando, nos anos do seu reinado, o PT ganhou uma eleição sozinho?!? Nem pra síndico da vila dos confins, nem para governanta da casa da mãe Joana. e, muito menos, para bwana desta imensa savana Brasílis.

Como estamos no mundo imaginário em que os animais falam, damo-nos o direito de cantar como um colibri no macio de suas revoltas jubas: - Faz o seguinte, meu querido leão esbravejador, rei dos animais políticos desse país: experimenta ganhar sozinho as próximas eleições nesta selva.

E, confiando na tua valentia de soberano selvícola, estou aqui, parado no ar como beija-flor que se preza, só para ver o PT "ganhar sozinho"- sem PMDB, sem PSB, sem os bichinhos de pelúcia que gostam de afago e se prestam a viver num cipoal de aluguel - a próxima eleição para o Palácio do Planalto, seu habitat predileto. Experimenta, te atreve, meu rei. Vais rugir no deserto.

RODAPÉ - Não estranhe o ambiente que domina esses fatos. É que voltamos ao tempo em que os animais falam. Lula está longe de ser o "sapo barbudo" batizado no tempo em que Brizola falava; Lula virou leão, o rei dos animais políticos que infestam este safári que explora a rica e exótica savana brasileira.