A Fonte Fidedigna conta a História Oficial
Se há coisa que tenha me incomodado a vida toda no jornalismo é, em nome da imparcialidade, ter que ouvir as fontes oficiais. Suas declarações são sempre dadas como a versão definitiva e com ares de pá de cal para sepultar qualquer história que não seja por eles autorizada. Seus discursos são travestidos com o manto da sua verdade com a etiqueta quase grife de fonte fidedigna.
Dilma aprendeu ligeiro os requebros de palanque. Tem usado um lenço pra cada choro: ontem no Nordeste botou os pés de fora como se usasse cobertor curto e desdenhou da crise econômico-financeira que contamina a Europa e todos os cantões do mundo, exceto o Brasil da Silva: "Com a gripe que vem lá de fora não pegamos pneumonia".
Fez gracinha à moda Deus de Rosemary. Entusiasmou-se e ao passar a mão de leve no "pibinho" basofiou ao mais puro estilo do seu criador: "O Brasil tem R$ 478 bilhões de fundos de reserva".
Pois vai ver que tem mesmo. Mas há controvérsias. Números não são o ponto mais forte de um governo que gosta de verbo.
Com sua fala, Dilma encerrou o assunto. Pronto, tá tudo dominado. E quem quiser saber porque a dívida interna do Brasil chegou neste ano a R$ 2 bilhões, decerto não será a primeira-mulher-presidenta que vai falar nessa "marolinha". As tais reservas não conseguem pagar mais do que a quinta miserável parte do que está no fundo do poço.
Nem é preciso que fale, mas necessário é justificar esse rombo sem prescedentes. Afinal, dívida interna quer dizer o que o governo está devendo para os brasileiros em saúde, educação, segurança, previdência, qualidade de vida, justiça e igualdade social.
Deve, não nega e não paga e nem bufa. Está mais preocupado em azeitar a máquina pública infernal que montou para se garantir no poder para todo o sempre, amém.
E é então que a vida de jornalista passa a ter sentido quando o repórter dá crédito ao outro lado da notícia que, a bem da verdade oficial, não tinha encerrado o assunto; tinha apenas revelado a soberania com que os governos usam e abusam da pá de cal.
E como a isenção é a despersonalização do jornalismo opinativo, procuro sempre saber primeiro a história oficial para só então ir em busca da verdade. Para azia dos fidedignos fico então com a notícia em minhas teclas e meus espaços até que a verdade triunfe de tal maneira que se transforme numa indesmentível falsidade. É o troco que eles merecem.
RODAPÉ - Um PIB de 0,9 é um desastre para qualquer país, mesmo para aqueles que não pegam, pneumonia. Mas celebrar, como Mantega celebrou a promessa de que este ano o PIB será de 3% é uma retumbante confissão de fracasso. Qualquer nação emergente não se contenta com um Produto Interno Bruto abaixo de 5%. Mas para um governo ter vergonha com uma estimativa de 3% é preciso ser sério. Simples assim.