Chega a dar comichão nos dentes ver governadores, prefeitos e suas comitivas chegando de helicóptero, com ares de Indiana Jones e frases de efeito na ponta das suas línguas compridas e sujas, nos locais das tragédias pelas quais eles são os maiores responsáveis.
Sérgio Cabral desceu num "porto seguro" de uma nesga de praia que sobrou da Angra dos Reis e escarrou na boca dos microfones com força suficiente para atingir as telas das emissoras de TV que o seguiam diligentemente: "É a crônica de uma tragédia anunciada!".
Anunciada por quem, ó versão chinfrim de Gabriel García Márques, modelito Rio Olímpico?!? O meu amigo de fé, irmão, camarada, jornalista Remy Gorga Filho - tradutor preferido do notável escritor colombiano para a língua portuguêsa - nunca te deu essas confianças; jamais pensou que sua tradução um dia cairia em mãos tão ineptas e conspurcantes.
Sorte tua, Cabral que Remy Gorga esteja morando em Quito, no Equador. Se por aqui estivesse, ele te mandaria dobrar a língua antes de usar a orelha do livro em que García Marques anuncia no primeiro parágrafo de sua obra a morte do jovem Santiago Nasar, morto a facadas pelos gêmeos Pedro e Pablo, irmãos de Ângela Vicário - a quem o rapaz teria desonrado.
De minha parte, eu te condenaria a Cem Anos de Solidão. A condenação - sem perdão - seria em razão de que, assim como Ângela escolheu Santiago como bode expiatório do amante que lhe fez bem, tu elegeste as vítimas de Angra dos Reis para esconder o culpado pelas mortes e pelo apocalipse que te aventuraste a visitar dois dias depois que a enxurrada parou.
Cem anos de solidão... Pouco, muito pouco, para vilanias desse tipo.