A comprovada e cuidadosa experiência de não deixar rastros, de apagar pegadas e vestígios na montagem de dossiês e bancos de dados, não se repete na rotina do cotidiano de quem já se apropriou das coisas públicas nesse país.
Dona Dilma está, desde ontem, em Porto Alegre, circulando pelos corredores do hospital Moínhos de Vento, acalentando os sonhos de Gabriel, seu primeiro neto. Fica por lá, até amanhã, quando então retomará a agenda dos palanques ao lado de seu grande cabo eleitoral.
Roberto Stuckert Filho/Presidência da República/Div
Dilma, para assumir publicamente os ares de primeira-avó da República dos Calamares, não foi sozinha. Não é uma coisa assim banal, como o nascimento do neto de "pessoas comuns". Foi acompanhada pelo plantel que condiz com uma postulante ao Palácio do Governo. Na comitiva, inclusive, está o fotógrafo Roberto Stuckert Filho, servidor da Presidência da República.
E lá está para bem servir à imagem da nova musa da tesoura no Brasil. Um pequeno descuido, certamente provocado pela mesmice de infrações menores. Um pulinho de gato a mais, desprovido da necessidade de álibis, ou dissimular provas e evidências. Coisa própria de "pessoas não comuns" - como recomenda o presideus.
Para esse tipo de cometimentos menores, ainda que impróprios e improbos, já nem julgam necessários os cuidados de sempre. Mas a desfaçatez está lá emoldurando o flagrante do dia. A foto da primeira-avó republicana ostenta o crédito profissional por extenso: "Roberto Stuckert Filho/Presidência da República/Divulgação".
Mesmo que, amanhã ou depois, diante de quaisquer comentários considerados pelo staf amestrado de Franklin Martins - O Homem da Tesoura, como "críticas persecutórias", de nada valerão os argumentos de que o diligente profissional da máquina fotográfica está em pleno e merecido gozo de férias. O chute - para ser bem lulático e usar o futebol como metáfora - vai bater na trave.
Não há como justificar a edição da imagem de dona Dilma pousando para a posteridade, com a assinatura da "Presidência da República", ainda mais com o material carregando o tradicional selo de "Divulgação".
Dessa vez, o gato deu o pulo mas deixou a marca das patas. Claro, se o fato não fosse um primeiro-neto e sim um novo dossiê, a versão não deixaria vestígios, nem evidências, nem provas - como os tribunais estão cansados de saber e de dizer.