Acho que um dia eu vou pro céu!
Antes que a geração que botou o clamor nas ruas se desse conta, o papa que declarou espertamente que não sabia "muito bem a razão dos protestes no Brasil", já estava ciente das manobras dos donos do poder, tentando corromper a quem tivesse qualquer semelhança com quem lhes parecesse ser "cabeça" das manifestações do povo indignado. Não, nada do que o papa ficou sabendo era mera coincidência.
O Serviço de Inteligência e Segurança do Vaticano não é a balbúrdia da Agência Brasileira de Inteligência que não sabe sequer traçar um roteiro de viagem, mesmo quando teve tempo para isso, desde que Jorge Mario Bergoglio, já na pele de cordeiro de Deus e atendendo pelo nome de Francisco informou que viria ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude.
Um passarinho, daqueles que não tem nada a ver com o fantasma de Hugo Chávez, tinha lhe cantado que não vem por aí bom tempo...
E então, sábio e duro, mas sem perder a ternura botou no ar o alerta que os brasileiros não podem ignorar: os manipuladores estão voltando à cena do crime e tomando providências, porque gostam de ser poderosos, porque gostam da mentira, da burla, do engodo e da riqueza mal-havida, muito mais do que gostam da verdade, um pesadelo que invade os seus sonhos de dominação social.
Eu percebi que Francisco queria dizer aos jovens e aos velhos que o Movimento Passe Livre foi convidado a abocanhar uma espécie de pedágio para não mais sair às ruas.
Achei que Francisco estava dizendo que havia senhores de anéis, contumazes e debochados predadores do patrimônio público, infiltrando o vandalismo indiscriminado nas marchas da indignação, para que os descontentes pareçam baderneiros e não um imenso bom bocado da renascida brava gente brasileira, cansada de corrupção, de serviços essenciais de péssima qualidade e penetrante crueldade.
Pareceu-me que Francisco percebeu a estratégia de marqueteiros e outros maquiavélicos que o governo mantém levando a mídia embasbacada e afoita a virar seus holofotes para o vandalismo profissional ao invés de tratar da razão principal da indignação que saiu às ruas: a corrupção e a aversão aos políticos que vivem em palácios e se banham à vontade no mar de lama das desigualdades sociais, todos eles garantidos pelas tábuas de salvação da imunidade e da impunidade.
Quando Francisco disse o que disse, ele inspirou-se tenho certeza, no Brasil Fantasia que os comerciais do governo passaram a mostrar nos mais caros horários de TV e nas melhores e mais bonitas casas do ramo jornalístico impresso, sob a égide e o singelo patrocínio da decaída Petrobras e similares estatais que já não têm dinheiro para gastar, como também não têm dinheiro para torrar em marketing e outros planos de publicidade enganosa as 39 arapucas que constituem a Esplanada dos Ministérios.
Eu não tenho religião; religião é coisa dos homens. E nunca ouvi dizer que há provas de que as religiões tenham nascido para que se espalhassem pelo mundo sem cobrança de dízimos, sem templos faustosos, capazes de levar os mais ricos e os mais pobres fiéis aos céus, numa pra lá de merecida volta ao Paraíso.
Mas hoje, depois desses agitados 2013 anos d.C.eu preciso me confessar: o que ele disse me deu esperança de que, um dia, tendo a coragem que o seu Jesus teve de sair às ruas para mudar a vida, a voz dos velhos e dos jovens terá vez e será o grande fator da transformação social que o Brasil brasileiro merece. Pronto, me confessei. Acho que um dia eu vou pro céu.
Eu boto fé nesse Francisco. Vou rezar por ele as orações que ainda me restam das aulas ginasiais no colégio dos padres. Acho que vou rezar pouco... Francisco é um alvo fixo dos poderosos paisanos. E ele ainda diz que o seu maior guarda-costas é Jesus...
Os donos do poder são todos muito bons, só não gostam de ser contrariados. O que Francisco tem a favor de sua perenidade papal é que ele também chega em qualquer canto do mundo dizendo que "não tenho ouro, nem prata"...
O diabo é que o Brasil e o mundo já não precisam mais de um Pôncio Pilatos e nem de lavar as mãos para autorizar a execução de qualquer humilde e despojado na face da Terra.