Tudo foi espontâneo, nada programado. A afronta foi tão grande que
parecia nos libertar da letargia e, como um empurrão ou um tapa na cara,
nos levou naturalmente a organizar o que há muito tempo não era
organizado e a tentar ordenar o que há tantos anos não tinha ordem.
O
movimento tomou forma própria e autônoma ao longo dos primeiros dias,
das primeiras mobilizações, dos primeiros conglomerados de protestos.
Num
país e num continente onde as coisas espontâneas, improvisadas
constumam levar ao desastre ou se dilacerarem em si mesmas, a rebelião
do povo movida a indignação contra a corrupção e as desigualdades
alastrou-se pelo Brasil inteiro numa sucessão de fatos que se armavam
uns sobre os outros e seguiram adiante, multiplicados por um fio
condutor, como se fossem resultado de uma longa programação anterior,
que jamais ocorreu até a geração da internet e das redes sociais.
RODAPÉ - O texto é uma adaptação do Capítulo II, do livro do jornalista Flávio Tavares, "1961: O Golpe Derrotado - Luzes e sombras do Movimento da Legalidade". Isso aconteceu em 1961 - há 62 anos, pois. Qualquer semlhança poderá ser mera coincidência.