"Afirmo
que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional.
Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à
politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao
achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer
instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos." (Roberto Mangabeira Unger)
Esta denúncia foi feita no bojo de um artigo do filósofo Roberto Mangabeira Unger, na edição do dia 15 de novembro de 2005 do jornal Folha de S. Paulo. A data era sugestiva: 15 de novembro, Proclamação da República. O ano de 2005 também: foi quando estourou o escândalo do mensalão.
E qual foi a reação de Lula, o vilipendiado? Processou Mangabeira Unger por injúria, difamação, calúnia? Qual o quê... Luiz Erário Lula da Silva, simplesmente nomeou seu detrator para o cargo de ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo - uma arapuca safada e inócua criada pelo ofendido presidente da República em homenagem às pedradas que Mangabeira Unger lhe atirou.
E o ferino filósofo aceitou. Calou-se. Unger se desdisse e ficou o dito pelo não dito. O PMDB então e como sempre de olho em mais cargos e mais poder, e também para proteger Renan Calheiros que nadava em denúncias de corrupção derrotou em 2007 a Medida Provisória que inventara o tal ministério para calar a boca de Mangabeira.
Não adiantou. Lula continuou fazendo o ilustre e desossado moral Mangabeira Unger ficar calado e o indicou para ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos.
Por que trazer esse deboche à tona agora, justo agora que Lula não é mais nada nessa República do que senão mentor intelectual de uma criatura chamada Dilma Vana?
Por nada mais do que apenas mostrar que o episódio Mangabeira Unger é o mais notável exemplo do quanto Lula foi pernicioso à nação nos seus oito anos de governo ao implantar e aplicar com desbaratinada obsessão, com impertinente ideia fixa o que chamou de "estratégia de coalizão pela governabilidade".
Lula contaminou a consciência nacional com a prática desonesta e letal à democracia de comprar e vender deputados, senadores, partidos; Lula comandou com enorme vocação para o mal uma aparelhamento político especializado em trocar dinheiro por poder e poder por dinheiro. E essa prática criminosa se fez corriqueira e banal sempre com o dinheiro fácil das burras públicas.
E foi assim que o Brasil se acostumou com o mal. E foi assim que presidentes, ministros, deputados, senadores, partidos políticos perderam a vergonha e transformaram o país num imenso saco de gatos que arranham a democracia; que destroçaram a saúde pública, a segurança, a educação, o transporte, os serviços essenciais numa imensa plataforma de lançamento das suas ambições.
O pior de tudo é que o brasileiro, desavisado, se acostumou com a patifaria, com o engodo, com a esperteza, sem preocupação com a ética e com a moral.
Nesse momento em que a indignação está levando o povo às ruas, não há nada melhor para explicar o clamor popular do que todos saberem que a raiz da indignação, dos protestos, dessa mobilização hoje latente e viva nos quatro cantos do Brasil, é a maquiavélica, desmoralizante e perniciosa estratégia de coalizão, um esquema de compra e venda de consciências, lançada e posta em prática por Lula para blindar seus desmandos, o achaque aos cofres públicos e à estrutura da máquina administrativa.
Está, em cada cartaz que hoje pede o fim da corrupção, em cada faixa que pede mais saúde, mais educação, mais segurança, melhores serviços essenciais, a única chance de lavar a sujeira política que mancha o Brasil de ponta a ponta.
Não serão as eternas e mentirosas reformas encenadas no Congresso Nacional ou nos escaninhos dos poderes constituídos e submetidos ao comando pernicioso em vigor que removerão a lama que escorre da Esplanada dos Ministérios, da rampa do Palácio ou da Praça dos Três Poderes que moralizarão o Brasil.
É a indignação do povo que vai promover amais urgente e libertadora reforma: a reforma moral. Ela é que vai estabelecer o regime que o Brasil precisa e merece: corrupção, não! Ladrão é ladrão, cidadão é cidadão.
O clamor das ruas - de quem nunca se acostumou com o mal - vai conseguir, sim que amanhã ou depois, não muito longe daqui e sem muita demora, todo poder emane do povo e em seu nome seja exercido.