Agora que está rolando a minisérie Vale a Pena Enganar de Novo, é que se comprova a cada capítulo a certeza de que o Brasil não tem mais volta mesmo. Serra acaba de comparar-se a Lula; Dilma se acha bonita e Marina abandonou o verde para cuidar do seu perfil. Os episódios de ontem na TV foram simplesmente deploráveis. Nesse ritmo vai dar traço de audiência.
Esse tipo de invasão de domicílio praticado pelos políticos nesses períodos pré-eleitorais disseminam na alma de uma nação a hipocrisia, o engano, a dissimulação, a mentira. Eleição após eleição, tudo é sempre igual.
Os mentirosos estão lá, sempre dispostas a jurar. Se o candidato é homem, ele mente mais do que finge; se é mulher finge mais do que mente. E o pior é que a mescla desse comportamento, sempre lhes dá prazer e poder. Aquele que mente finge melhor e mente mais governa.
Os postulantes ao poder sabem que a mentira é tão melhor quanto mais pareça verdadeira; e tanto mais agrada quanto mais tenha de duvidosa e de possível. Uma coisa dá para notar nessa fase televisiva da nossa gloriosa política: um tucano não tem como jurar nem mentir com a metade da luminosidade de um poste.
O que está fazendo falta nesse pacote de enganos e dissimulações é humor. Os candidatos ao Palácio do Planalto até agora, mostram claramente que não aprenderam com Lula a arte de fazer política no Brasil: mentir com graça.
Eles não sabem dar vida nem criar atrativos para as meias-verdades que lançam dos dentes pra fora. Não perceberam, o que Lula pratica o tempo todo: dar às suas pequenas verdades - já que a política tem algumas - o resplendor da mentira.
Essa é talvez a pior minisérie dos últimos vinte anos eleitorais. Ela faz mal à medida que incorpora na alma do país inteiro uma consciência amortecida pelo hábito de digerir enganos.
Todos os que tem acreditado nas mentiras de um charlatão se vem obrigados agora a sustentá-las, para não confessar que vem bancando os imbecís.
Acreditar numa verdade é um ato natural da sociedade, uma tomada de posição que exige comprometimento, um ato que requer atitude da sociedade; acreditar na mentira é simplório e fácil, não custa nenhum trabalho reconhecer. É assim que um povo defende as mentiras que lhe são passadas com mais simplicidade do que aceita as verdades.
O que o povo não consegue, ao deixar-se governar pela mentira, pelo engano, pela dissimulação, é discernir - como Francis Bacon um dia foi capaz de perceber que "o mau, quando se finge de bom é péssimo".
RODAPÉ - O candidato que mentir com o charme, a graça e o veneno com que o povo brasileiro leva a vida, ganha disparado a eleição de outubro.