ENTREVISTA
COLETIVA-EXCLUSIVA ENTRE O GARANHÃO DE PELOTAS E SEU GHOSTWRITER.
Perguntas
e respostas de uma coletiva-exclusiva, de alma tão isenta quanto a alma das
pesquisas de opinião encomendadas pelos senhores dos anéis que se apropriaram
dessa Democracia de Gabinete, em que mais de 200 milhões de brasileiros cabem
em suas gavetas.
Garanhão
de Pelotas, você é um cidadão do mundo por que gosta mais do mundo do que gosta
de Pelotas e do Brasil?
Tá me estranhando? Eu adoro o Brasil. Ele é pra mim como
se fosse Pelotas, a minha pátria pequena que deixei lá no Sul: sempre que posso
estou distante o suficiente para, de quando em vez, ir até lá matar a saudade e
logo sentir o desejo de dizer adeus.
Tá
bom, vamos ao que interessa. Seguinte: o povo decente está parecendo diante
desses políticos, todos esses políticos, com aquela cena antiga do cão que
ladra atrás do ciclista e quando o ciclista para a bicicleta e o encara, o cão
também para e deixa de latir...
É quase isso mesmo. Só que não. É que a Lava Jato fazendo
o que tem feito, parece que já fez tudo por nós. E aí, o brasileiro acha que só
votar direito já tá muito bom...
Epa!...
Epa, não, meu confrade. É que hoje existe um Brasil
virtual que se acha nas redes sociais, mas não se encontra de verdade. Eu e você
mesmo... Há quanto tempo a gente não toma um café com bolinhos de chuva? A
gente mais que ideias para trocar. O brasileiro de alma muito diferente da alma
do Lula, esqueceram que a vida é a arte do encontro, embora haja tanto
desencontro pela vida...
Pra gente dar um jeito nesse país que tem um Estado
bandido, gerenciado pelo crime organizado, os brasileiros têm que se organizar
também. Tipo assim, tomar pelo menos duas ou três providências, sem truculências
ou exageros. Por exemplo: estreitar os seus contatos; tirar os fundilhos da
cadeira.
Como
assim?
Como assim? ... Comendo, ora bolas! Quanto mais você se
encontrar com pessoas, mais poderá apontar injustiças; poderá analisar o que de
bom vocês juntos podem fazer contra o que é ruim nos opositores; o que de bem
vocês e mais outros e outros mais, podem fazer de bem contra o mal.
Parece
fácil.
Nem tudo é o que parece. Essa aproximação tem que ser
constante: visitas, cartas, mensagens, webmedia, cafezinhos fortuitos,
almocinhos executivos, abaixo-assinados, reuniões, manifestações, encontros. Enfim,
uma vida social ativa que, de passivos, esse mundo tá cheio.
Tá,
mas já avisaram os adversários que eles vão perder?
Não, nem têm que avisar. Precisam é se encontrar. Essa
parada parece fácil, mas não é. Na maioria dos casos os adversários se recusam
a se encontrar conosco. Por várias razões: uma, porque somos opositores; duas,
porque eles podem ter raiva; três, por desprezo; quatro, por medo: eles podem
achar que queremos minar o seu poder. Afinal, eles nos encaram como opressores
e se colocam no papel de vítima.
Então?...
Então, a vítima cala e dá no pé, não quer se encontrar
com o cara que traz a verdade com ele. É aí que a gente precisa ter uma plano
organizado de confrontar essa politicalha que tomou conta do nosso país e usar
de muita prudência, para não darmos com os burros n’água, por que se há uma
coisa que políticos, governantes e autoridades fazem na vida é se juntarem
contra nós. Eles são organizados. São astutos e têm uma vela pra cada santo; um
lenço pra cada choro.
E
assim, eles acabam ganhando?
Eles vêm ganhando. Ganhando muito. Ganhando demais e o
que não podem e não devem ganhar. É que eles se organizam de tudo que é jeito:
nos currais eleitorais, nos partidos que eles mesmos inventam, nas leis que
eles criam, nas diferenças sociais que estabelecem uma clara divisão de classes
nesse país: os políticos e as pessoas. Mas, podem perder...
Como
assim? Como assim, não... Como é que se faz para ganhar deles?
Criando um movimento sem truculência, bem organizado,
esperto, astuto, com uma ideia clara do que se pretende alcançar. Um movimento,
de vários movimentos; uma legião ou várias legiões de pessoas que não se deixem
encantar pelo canto das sereias; que não queiram o Estado como patrão; que não
se deixem envolver nem se vendam ou queiram comprar.
De
novo, parece fácil...
Pô, você não tem outra coisa pra dizer? É o seguinte.
Esses grupos formados por nós, os indignados até agora virtuais, comecem por
recusar qualquer colaboração com o que seja, por menor que o seja, injusto e
desonesto. Temos que partir para a ideia de não sermos cúmplices dessa
pandilha, seja por ficarmos calados, seja pelo silêncio ou pela cooperação ingênua.
O
que vem a ser esse tipo de recusa de, digamos, não-colaboração?
Tá caindo de maduro. É não receber nem oferecer propina,
nem gorjeta, nem cometer fraude fiscal, furar a fila, dar o troco errado,
discriminar raça, religião, sexo & rock’n roll. É também não desdenhar dos
tais, com o perdão da palavra, Centros de Defesa dos Direitos Humanos. Temos
que recusar certas leis, não porque não sejam boas, mas porque elas vêm sendo
usadas para os canalhocratas burlarem as leis.
Peraí, tchê! Não é só isso, tem mais um pouquinho. A
gente precisa se organizar – começando pelos vizinhos, pelos colegas de
trabalho, pelos companheiros de colégio ou faculdade – para poder partir para o
que se chama de desobediência civil.
Mas,
isso não dá cadeia?
Ah, peraí maluco beleza! Desobediência civil já deu
cadeia pra alguém desses proprietários indébitos do nosso país? A desobediência
civil deve ser usada contra uma lei injusta. E quando é injusta, uma lei,
qualquer lei, deixa de ser lei. O segredo é desobedecer com disciplina, com método,
com organização. Isso, ninguém faz sozinho. O diabo é que nós somos uma multidão
dispersa.
Pelo
que vejo você está me aplicando o velho preceito de que a união faz a força...
Isso, isso, isso. Mas, há casos em que a União faz açúcar!
A gente precisa praticar a desobediência civil, sem violência, sem excessos,
com ordem e sem indisciplina. Precisa agir nas fronteiras que estabelecemos em
conjunto – quando já tivermos formado um bom grupo. A gente precisa ser um
desobediente civil que nada esconde, sem fraude.
Moral
da história?
A moral da história é que a gente precisa sair dos
encontros no Brasil virtual e nos encontrarmos de verdade com a família, com a
tradição, com a propriedade. Epa! O que eu quero dizer é que os políticos e o
crime são organizados; eles se juntam e usam suas diferenças para fazer com que
sejamos obedientes e submissos aos seus descalabros. Assim, separados, os
brasileiros de boa vontade ficam baratos e fáceis de serem comprados ou de se
venderem.
O
que foi que você me disse nessa coletiva-exclusiva, Garanhão?
Disse que se os brasileiros não forem covardes egocêntricos
e se juntarem usando as armas da sua inteligência, da razão, da justiça e da
verdade, o Estado deixará de ser bandido e o crime organizado perderá o governo
para o povo. Quando a gente descobrir que os grandes só nos parecem grandes,
porque estamos ajoelhados, então a gente vai fazer que todo o poder emane do
povo; que em seu nome o poder seja exercido e que, esse poder com o povo seja
repartido.