Brasília, convite encaixotado à tragédia
O Brasil incendeia na chamas da Prevaricação
Não se trata de paranóia, nem de uma cena dantesca dé-jàvu. O ligeiro incêndio no prédio dos ministérios do Transporte e das Comunicações nesta terça-feira é a dura e pirotécnica crônica de uma tragédia anunciada tipo assim Santa Maria na Esplanada dos Ministérios e no Distrito Federal de ponta a ponta.

Na rotunda desse palco de tragédias iminentes que são Brasília em particular e o Brasil por extensão, os governos de todas as dimensões têm culpa no cartório - desde burocratas que assinam alvarás de funcionamento, certificados de "habite-se" e similares até ao menor contingente de Bombeiros que vêm tirando o Corpo fora.
Eles parecem não olhar como a gente olha; parecem não ver como a gente hoje pode ver com aflita nitidez, o risco que se corre não só em boates que, por exposição aos holofotes, vêm sendo fechadas em nome da segurança pública; pode-se ver com a clareza da realidade, o risco de perigos de incêndio e de desgraça a qualquer momento em boates, cinemas, casas de espetáculo desfiles de carnaval, estádios esportivos, queimadas na mata ou à margem das estradas e da vida, prédios comerciais, edifícios em forma de caixotes em conglomerados humanos com perfil de arapucas.

E assim é que a nação tão desavisada quanto acostumada enfrenta de aparência calma, serena e submissa a iniquidade dos desatentos e prevaricadores ir/responsáveis. Mas a sociedade já padece de uma síndrome do pânico que está mais para reprimida do que para stand by.
Pois agora antes que a vaca enfumaçada tussa, é mister que voltemos à vaca ainda fria: o prédio onde aparentemente funcionam os ministérios dos Transportes e das Comunicações, teve o que os arautos tardios chamaram de "um princípio de incêndio" na tarde desta terça-feira (19).
Bolas, incêndio é que nem distensão muscular: não tem "princípio", quando começa já é distensão; pode ser grande ou pequena, mas é distensão. Incêndio é assim mesmo, começa pequeno, mas pode logo ser enorme.
E cheguemos então e de uma vez à vaca, enquanto é fria: o prédio dos tais ministérios não tem sistema de alarme de incêndio. Você entra numa fria e pode se queimar. Simples assim.
A evacuação dos funcionários foi feita boca a boca, de acordo com o chefe da Brigada de Incêndio do prédio, Wodirley Lopes, ou coisa parecida: “O alarme está em fase de aquisição, não tem no prédio”, disse. Lopes, mais um profeta de ocasião, informou que os dois ministérios têm aproximadamente 1.500 servidores e que bem mais de 500 pessoas passam todos os dias por lá.
O quadro de risco é o mesmo em toda a Esplanada dos Ministérios, um convite encaixotado a céu aberto para uma catástrofe mais que previsível; uma fatalidade em regime latente, 365 dias por ano ou mais um, se bissexto é o ano - como bissexta é a preocupação oficial para com essa faixa do tecido social pontilhada - como estimam os senhores relapsos - de paranóicos e alarmistas
A origem do "princípio" de incêndio foi uma pequena e boba explosão na subestação da Companhia Energética de Brasília (CEB), no subsolo do edifício.

Como se Brasília fosse a edição federal da desgraça de Santa Maria, o comunicador da Corporação, corporativamente, nada disse sobre a data da última inspeção feita ali pelo seu inerte batalhão de revisões de sinistros e de infaustas e corriqueiras ameaças da mesma natureza. Imitou, pura e simplesmente, o comandante bombeiro gaúcho que tirou o corpo fora. E logo será imitado pelo profeta da próxima atração fatal. É a Síndrome da Defesa Civil, organismo inventado para explicar o que já era, prometendo o que vai fazer.
Agora é só esperar que demitam o fiscal do motor de "pequena explosão" e pronto! Com a culpa do mordomo, o caso dos ministérios está encerrado. Envolto na tradicional cortina de fumaça.
O espírito de corpo salva o simpático e sempre bem-visto Corpo de Bombeiros, responsável, diante da força da lei, pelas vistorias que não são feitas em Brasília, capital de um Brasil que incendeia nas chamas da prevaricação.