Saber envelhecer, Cícero e as articulações
Por Carlos Eduardo Behrensdorf - Brasília
Um dito popular lembra o seguinte: quem é vivo sempre aparece. E mostrando que o povo sabe o que diz, aqui estou eu mais uma vez, formalmente buscando guarida neste insubstituível e perene Sanatório da Notícia.
Dando um toque poético ao retorno lembro o que cantava o pensador noturno Nelson Gonçalves, menestrel com raízes fronteiriças do Sul do Brasil; “Boemia, aqui me tens de regresso, e suplicante te peço a minha nova inscrição”.Antes de me acomodar no meu antigo quarto quero dizer que tudo vai bem. Inicialmente, dedicarei parte de meu repouso falando em alguns livros que li ou lerei, e fatos que ocorreram ou ocorrerem neste conturbado século 21, aquém e além fronteiras.
Não sei se “aquém” está bem colocado e muito menos se diz o que quero dizer e, muito menos se a frase é correta, mas rima e gostei do som.
O primeiro livro escolhido não é exatamente um novo best-seller. O titulo tem tudo a ver: “Saber envelhecer”, de Cícero, tradução de Paulo Neves, editado no Brasil pela L&PM Pocket, impresso no inverno de 2009.
Antes que me perguntem, informo:
“Marco Túlio Cícero nasceu em Arpino, próximo de Roma, em 106 a.C. e morreu assassinado pelo centurião Herênio a mando de seu inimigo político Marco Antonio. Político influente, jurista, orador, filósofo, sua obra – vasta e diversificada – é uma das mais importantes da literatura latina e influentes na cultura universal. Escreveu 10 tratados filosóficos, entre os quais Re Publica, De Natura e De Legibus. Quase 1.000 cartas, dezenas de orações, tratados de retórica e as célebres Catilinárias.
Neste límpido texto sobre a velhice, Cícero desenvolve a tese segundo a qual "... a arte de envelhecer é encontrar prazer que todas as idades proporcionam, pois todas têm suas virtudes.” Com esta mini-biografia fica provada uma coisa: contracapa também é cultura.
Cícero tenta convencer ou animar seus leitores que já passaram dos 30, ao escrever: “Em verdade, se a velhice não está incumbida das mesmas tarefas da juventude, seguramente ela faz mais e melhor”.
Há controvérsia.
Um amigo meu, devidamente aposentado me disse o seguinte: “O meu problema maior é com as articulações: o que tem que articular enrijece e o que tem que enrijecer flexiona.”
O que será que ele quis dizer com isso? Assim que eu souber a resposta, informo.
RODAPÉ - Eis que Heron abre suas asas e, renascido das cinzas de sua reciclagem européia, volta aos corredores nacionais deste Sanatório. Behrê é um jornalista especialista na arte da vida e seus textos são carregados da cultura que encanta nobres e plebeus. Não dá pra não ler. A equipe de plantonistas aqui da casa já emitiu o boletim médico de Carlos Eduardo Behrensdorf: "Não tem remédio. Sofre de um desvio raríssimo no mundo atual, a STI - Síndrome de Talento Incurável".